segunda-feira, 9 de dezembro de 2019

Execuções de indígenas espelha o projeto de morte que representa o governo brasileiro para os povos da floresta

Três guardiões da floresta do povo Guajajara foram assassinados no MA 

“O projeto do governo é um projeto de morte para os povos da floresta, para os indígenas, quilombolas e ribeirinhos”, alertava Alessandra korap, indígena Munduruku, por ocasião de um dos diversos debates que tomam a agenda na Universidade Federal do Oeste do Pará (UFOPA), onde cursa Direito.  Recentemente a indígena teve a casa assaltada e o seu computador levado.

A avaliação da guerreira indígena tem se materializado de diversas maneiras durante esses meses de desmandos do governo. As execuções dos indígenas Guajajara, concessão da base de lançamento de foguetes de Alcântara para exploração dos EUA, - ambos os casos no estado do Maranhão -, o assassinato de Emyra Waiãpi, no estado do Amapá, o esvaziamento e desmantelamento de instituições que tratam da questão agrária, indígena e quilombola cimentam um caminho em oposição às pautas dos povos da floresta.

Nesta sombria aquarela despontam ainda o aumento do desmatamento na Amazônia, a demissão do pesquisador do INPE, Ricardo Galvão e a nomeação de militares para chefias de cargos como  Funai. Sublinhe-se ainda o circo midiático montando em torno  de “nebulosa” investigação policial, que resultou na prisão dos brigadistas da reserva de Alter do Chão, no município de Santarém, no oeste paraense e o discurso preconceituoso contra indígenas e quilombolas do procurador do estado do Pará, Ricardo Albuquerque.  

O quadro nebuloso é composto ainda por um conjunto de medidas no campo jurídico que tende a extinguir ou fragilizar algumas garantias efetivadas na Constituição de 1988. A permissão para que fazendeiros possam andar armados, concessão de mineração em territórios dos povos tradicionais, azeitamento do processo do já frágil  licenciamento ambiental em nome da “segurança jurídica” para o mercado integram um pacote de mediadas que visa beneficiar a base rural de apoio ao governo, ladeada pela bancada fundamentalista religiosa e a da bala e a “indústria” de notícias falsas.

Em síntese, de diversas formas, o governo acena a seus aliados uma concessão para matar, para indiferença às leis, como no caso ocorrido em Novo Progresso, também no estado do Pará, onde fazendeiros organizaram um incêndio. A trilha de violência conta ainda com ataques frontais a servidores públicos dos órgãos de fiscalização da área ambiental e afins, onde queima de veículos públicos e ameaças fazem parte do modus operandi de madeireiros, fazendeiros e grileiros.     

É notória a condição colonial da Amazônia na trama da economia mundo. Ocorre que nos dias atuais, sob o signo do medo, esta respira o bafo da fúria, e se exacerba sob o manto do discurso do ódio e da intolerância.

O capital em terras nacionais é uma parada de sucesso. Desde sempre expropria, mata e saqueia as riquezas que cá abundam. Páginas e mais páginas registam a saga desde  tempos imemoriais. Há sangue de indígenas, quilombolas, e de não indígenas e não quilombolas empobrecidos sobre as batinas, fardas e togas. 

É como expressa o verso do samba da Mangueira deste ano: “Há sangue retinto pisado atrás do herói emoldurado”. E as notícias tristes não cessam de brotar. Uma se sobrepõe a outra, provoca perplexidade e desencanto, sem tempo de processar a mais recente.

A mais recente foi a morte do mototaxista Marcio Rodrigues dos Reis, principal testemunha de defesa do caso da prisão do Padre Amaro. O religioso é agente pastoral da Comissão Pastoral da Terra (CPT), na cidade de Anapu, outra quebrada do estado do Pará, um triste emblema da brutalidade do avanço do capital sobre a Amazônia. Amaro é substituto da missionária Dorothy Stang, executada em fevereiro de 2005.

 

O governo brasileiro deu licença para matar. E desde então, as mortes se amplificam no campo nacional. Em todas as latitudes. No entanto, desde sempre ocorreram insurgências. Aqui cumpre realçar a autodemarcação de seus territórios  empreendidas pelos indígenas Munduruku, a construção do Protocolo Consulta como ferramenta de defesa territorial, a expulsão de garimpeiros e madeireiros de seus territórios, as greves nos canteiros das grandes hidroelétricas na Amazônia, a ação solidária dos indígenas do povo Munduruku do Baixo Amazonas, com os parentes no enfrentamento contra Belo Monte, em Altamira, e a celebração de festivais de diferentes modalidades dos quilombolas.

Uma vez mais, invoco a sabedoria popular na composição do samba da Mangueira de 2019: Salve os caboclos de julho/Quem foi de aço nos anos de chumbo/ Brasil, chegou a vez/De ouvir as Marias, Mahins, Marielles, malês/[...] É na luta que a gente se encontra”.

As ameaças contra os povos da floresta continuam. Como a denunciada pelos professores da UFPA, caso ocorrido no município de Altamira/PA. Veja o vídeo AQUI

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