Nota do coletivo Brigadas Populares do Pará critica modelo de desenvolvimento para a Amazônia, marcado pela expropriação e execuções de ativistas, simpatizantes e assessores
Massacres e chacinas
no rastro de destruição!
A burguesia, “fez da
dignidade pessoal um simples valor de troca e em nome das numerosas liberdades
conquistadas estabeleceu a implacável liberdade de comércio. Em suma,
substituiu a exploração, encoberta pelas ilusões religiosas e políticas, pela
exploração aberta, única, direta e brutal.” (Manifesto Comunista de Marx e
Engels, 1848).
Até a década de 1960 a
dinâmica da região sudeste do Pará é determinada pelo poder da oligarquia dos
castanhais, mandos e desmandos eram dirigidos por uma dezena de famílias
proprietárias dos castanhais e seus subordinados, que dominavam a economia e o
poder político, subservientes ao comando estadual.
“No dia de São José,
de 1964, mulheres de boa família, acompanhadas de seus maridos, filhos e
domésticos, saíram às ruas de São Paulo para realizar a Marcha da Família com
Deus pela Liberdade. Pediam a intervenção das Forças Armadas no processo
político e derrubada do governo constitucional do presidente João Goulart”. (A
Militarização da Questão Agrária no Brasil, José de Souza Martins, 1984). Deram
o golpe.
O sudeste do Pará vai
ser incorporado à geopolítica traçada para a Amazônia, pelos militares, como
parte importante aos interesses de grupos nacionais e internacionais, latifundiários
e industriais, por seu grande potencial em madeira, minério e água para gerar
energia elétrica, já até então identificado por empresas norte-americanas, que
aqui pesquisavam e traficavam.
Pela política imposta,
as terras aos poucos foram sendo transferidas do domínio dos donos de
castanhais a pecuaristas, empresas agropecuárias e bancos (BRADESCO,
BAMERINDUS), na sua maioria pelo processo de grilagem. Áreas de florestas, em
poucos anos, são jogadas em baixo, queimadas e transformadas em pastagens, juquiras
e áreas degradadas.
“Morreu quase todo
bicho/esvaiu-se todo encanto/visagem caiu no mato/-pernas, pra que vos
quero?-/passarinho foi embora/dizer para onde não sei/só ficamos nós,
coitados,/presos no arame farpado/bando de bois entre bois.” (Trecho do poema
EPÍLOGO, Ademir Braz, 1978).
Os coitados, entre
arames e bois, sob a mira das armas das policias, de jagunços e milícias, para
garantirem também o direito a espaços no imenso e cobiçado território, resistem
e enfrentam as forças contrárias, com ganhos e perdas nos diversos conflitos
travados no campo.
Despejos, torturas,
assassinatos, chacinas e massacres de trabalhadores e trabalhadoras rurais,
religiosos e advogados vão predominar na luta pela terra, que tem em um extremo
trabalhadores; e noutro, o Estado com seu aparato administrativo, jurídico e
policial, fazendeiros e jagunços armados.
Citamos
algumas chacinas, massacres e assassinatos: da Guerrilha do Araguaia (década de 70) com
desaparecimento/assassinato/tortura de indígenas e camponeses, além de dezenas
de militantes políticos; Caso da fazenda Ubá,
1985, oito mortos, entre os executadas havia uma jovem grávida, São Domingos do Araguaia; Caso da fazenda Princesa, 1985, 6 mortos, entre os assassinados uma
mulher, Marabá; Caso da Ponte do rio
Tocantins, fala-se em 22 mortos, mas até hoje cogita-se que que o número de mortos tenha sido subestimado, 1989,
Marabá; Massacre de Eldorado dos Carajás, 19
mortos, dezenas de lesionados, 1996, Eldorados dos Carajás; Caso de Morada Nova, 3 mortos (marido,
esposa e filho), 2001, Marabá; Chacina de Pau
Darco, dez mortos, 2017, Pau Darco; Assassinato
do advogado Gabriel Pimenta, 1982,
Marabá; da Irmã Adelaide, 1985,
Eldorado dos Carajás; assassinato da Irmã
Dorothy, 2005, Anapú. Assassinatos de lideranças: Arnaldo Delcídio, 1993, em Eldorado dos Carajás; Dezinho, 2000, em Rondon do Pará; Fusquinha, Doutor, 1998, e Euclides, 1999, em Parauapebas; Zé Piau, 1981, em Jacundá; Raimundinho, 2009, em Tucuruí; Zé Claúdio e Dona Maria, 2011, em Nova
Ipixuna.
Os interesses pelo
saque mineral e para que japoneses pudessem recuperar suas perdas com o
fechamento de usinas no Japão, por conta da crise do petróleo, 1970, tem que
ser gerado energia a preço de custo, impõe-se a construção da barragem de
Tucuruí (PA). Para produção de alumina e alumínio, japoneses vão se instalar em
Bercarena (PA), com a Albras/Alunorte e americanos vão se instalar em São Luis (MA),
com Alcoa/Alumar, e depois em Juruti(PA), Alcoa.
“Em verdade, quando a
construção da hidrelétrica foi decidida, em 1974, ela seria apenas o apêndice
de um dos maiores complexos industriais de alumínio do mundo, a Albrás/Alunorte,
um consórcio nipo-brasileiro que produziria 640 mil toneladas de alumínio
metálico e 1.400.000 toneladas de sua matéria-prima, a alumina, obtida de um
mineral abundante na Amazônia, a bauxita. Sozinho, esse empreendimento exigiria
não menos do que 1,3 milhão de kw, sete vezes mais do que Belém, com seu
primeiro milhão de habitantes, consome atualmente”. (Lucio Flávio Pinto,
Carajás, o ataque no coração da Amazônia, 1981).
A hidrelétrica de
Tucuruí, com o lago de 2.400 km², desalojou para mais de 6.000 famílias de
agricultores, ribeirinhos, vasanteiros, pescadores e povos indígenas, moradores
em cidades, vilas, povoados e as margens do rio Tocantins, que foram tomados
pelas águas do lago. Muitas famílias, devido as várias elevações da cota da
barragem, tiveram que ser remanejadas por mais de uma vez.
A maioria das famílias
desalojadas pelas águas do lago formou um enorme aglomerado de pessoas, que se
juntou a desempregados das empresas empreiteiras da Eletronorte, que em
conjunto ampliaram a zona urbana da cidade de Tucuruí, com a criação de vários
bairros. Pessoas que na sua maioria, sem oportunidade de trabalho, muitas se
tornaram alcoólatras e mendigos, outras vivem do trabalho informal, ou,
procuraram ocupar terras para trabalhar.
Desde o início da
construção da hidrelétrica que as populações de Tucuruí e municípios vizinhos
convivem em permanentes conflitos, que tem gerado vários assassinatos, muitos
deles com requintes de crueldade. Militantes do Movimento de Atingidos por
Barragens e do Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Tucuruí,
tem sido os principais alvos das perseguições, por terem enfrentado a
Eletronorte e latifundiários.
Se buscarmos as
informações, vamos perceber que as chacinas e assassinatos bárbaros, nesta
região, ocorreram principalmente no governo de Jáder Barbalho e ainda dos
militares (1982-1985). E agora, duas chacinas, uma logo depois da outra, contra
trabalhadores(as), uma delas com corpos carbonizados e outra torturados até a
morte, em governo federal militarizado e estadual do filho do Jáder Barbalho.
Coincidência ou não,
precisamos estar atentos para os acontecimentos que parecem se repetir, a
violência contra a classe trabalhadora para estes se submeterem, sem reação, às
ordens dos dominadores. É este o recado que querem nos passar, desde o
assassinato de Marielle, no Rio de Janeiro, e agora da companheira Dilma, em
Tucuruí. O governador, Elder Barbalho, já solicitou a força nacional para o
Estado, mas não se manifestou sobre os assassinatos.
Nós, das Brigadas
Populares do Pará, conclamamos a todos os movimentos de trabalhadores(as) a nos
unirmos em uma frente de lutas, para além de nossas diferenças de
encaminhamentos, para não nos deixarmos curvar diante da grande opressão que há
muito se anuncia. Não podemos nos calar diante dos assassinatos. A guerra está
declarada, no mínimo temos que cuidar de nossas autodefesas.
Marabá, 26 de março de 2019.
BRIGADAS POPULARES PARÁ
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