sábado, 29 de dezembro de 2018

Naqueles dias....


Partidas
Cais
Torpor
Existem cordas
Para conter um
Mar de ais?

A partir da Rua da Viração, berço de Gullar, o Ferreira, enviarei a esquadra de aviões produzidos de isopor para o Detrito Federal. Tudo para atazanar a posse. Na infância, em São Luís, era comum metamorfosear as bandejas de isopor do supermercado Lusitana [extinto] em aviões.

Você podia simplesmente lançar ao vento, ou amarrar uma linha de costura subtraída do kit familiar. As talas dos coqueiros faziam parte da arquitetura de papagaios e curicas. As velhas Havaianas colaboravam na composição de carros, tratores e caminhões e afins na condição de rodas. Havaianas inúmeras vezes otimizadas com pregos e arames para incrementar a longevidade. O atrito ao chão promovia um barulhinho bom.

A engenharia de lata tinha nas embalagens do óleo de Salada o outro componente. Naqueles dias, qualquer pedaço de rua ganhava ares de arena sofisticada para peladas e outras atividades: rouba bandeira, pica esconde, amarelinha, cai no poço, e outras brincadeiras que a memória não alcança.

Nenhum quintal escapava impune à sanha da tropa da rua e vizinhança. Era comum assaltar os pés de manga rosa, cajá, goiabeira, carambola, etc. E tudo ficava mais lindo quando a herdeira do pomar tomava banho descuidada. Era a visão do paraíso.

Naqueles dias distantes a soma das meias da gurizada ganhava status de bola após o catecismo [nunca conclui]. Uma fatia do Atlântico era a nossa piscina de luxo. Ali, na frente da Praça Gonçalves Dias, após a fuga da Igreja dos Remédios.  

Naqueles dias, a pobreza era rica em inventividade. Nas noites de queda de energia, havia mais luz. As estrelas alumiavam sagas sem fim.

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