quarta-feira, 20 de março de 2013

Crônica de uma rua distante


O caos atormenta os fundos de um shopping no entroncamento. Não  existe mão ou contramão. Um negro gordo faz as honras de flanelinha. A categoria nunca faz parte de planos de governos dos candidatos ao cargo de executivo da cidade.  

O dono do bar da esquina outro dia foi morto em assalto. Há um bar de frente para o outro. Operários, malandros, biscateiros, moçoilas flutuam por ali. O anotador do jogo do bicho decifra sonhos dos apostadores. Memorizei que sonhar com morte é jacaré.

Manhã de segunda. Os tricolores tiram sarro da cara dos remistas. O Paysandu emplacou três na cachola do Leão. Uma trinca compartilha cerveja. A média de idade é quarenta anos.  Um gordo, um baixinho e um mais encorpado. Fazem graça com todas as mulheres que passam próximo.

O gordo reclama a perda de quinze mil reais. Emprestou a juros para um amigo. Ele está ansioso para seguir para a Ilha de Outeiro. A farra será lá. O baixinho pede uma cerveja atrás da outra. Dia de promoção. Lembro do livro Os Éguas do Proença. A obra trata do submundo dos bacanas de Belém.

A parada dos quinze mil foi agiotagem. Eles parecem indignados pelo fato do amigo que tomou a grana emprestada ter prestado queixa na PF. O amigo é da polícia. As horas se adiantam. Meio dia aporta. As nuvens cinza se anunciam. O trio ternura come algo e segue para a ilha num Honda. Umas duas horas de estrada.

Dias depois volto ao boteco. Uma semana, creio. O pessoal da quebrada informa que os caras foram espancados no dia anterior. Foram PM´s. Um deles exibe um vídeo da prisão. Uns comentam que o preço da liberdade morreu em cinquenta mil.

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