(Exigimos profunda investigação e punição dos envolvidos)
toda morte matada,
toda morte morrida,
se for vida doada,
não é morte,
é vida
(Dom Pedro Casaldáliga)
A lista de camponeses, padres, freiras, sindicalistas, defensores de direitos humanos, homens e mulheres, assassinados no Estado do Pará enquanto lutavam por uma revolução econômica, social, cultural, política e ambiental, é longa. No domingo, dia 23 de dezembro, aproximadamente às 16h, mais um mártir se juntou a esta abominável relação. MAMEDE GOMES DE OLIVEIRA, 58 anos, assentado do projeto de assentamento “Mártires de Abril” e antigo coordenador estadual do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), foi assassinado com dois tiros no peito quando estava em seu lote.
Mamede era um dos principais incentivadores da discussão sobre agroecologia no MST. Estudioso do tema e atencioso com todos que lá chegavam para pedir orientação, implementava na prática tudo o que teorizava. Criou, junto com sua companheira Teófila da Silva Nunes, o Lote Agroecológico de Produção Orgânica (LAPO), onde mostrava que a experiência da agroecológia já é uma realidade.
O assassinato de Mamede continua sem resposta. No dia do crime o camponês acabava de retornar de uma área onde estava trabalhando, localizada nos fundos de seu lote, quando, alertado por seu cão, percebeu que um desconhecido estava se dirigindo para o local onde ele estava anteriormente. Ainda interpelou o estranho, que não deu muita atenção e continuou seguindo caminho. Mamede então resolveu averiguar o que estava ocorrendo, momento em que foi alvejado com dois tiros no peito, disparados a partir de um revolver calibre 38.
Denuncia anônima indicou que 03 homens chegaram a casa onde foi preso Luiz Henrique Pinheiro, um dos indiciados como autor do assassinato. Luiz Henrique até o momento se recusa a falar sobre o ocorrido, os nomes dos envolvidos ou suas motivações. Com ele foi encontrado o revolver calibre 38, com duas cápsulas deflagradas, roupas sujas de sangue e uma mala já pronta para viagem. Quando a polícia chegou ao local os outros 02 homens já haviam desaparecido.
Como não foi roubado absolutamente nada de Mamede, que estava inclusive com seu telefone celular, está descartado o crime de latrocínio.
As organizações e movimentos sociais que subscrevem esta nota exigem que os órgãos responsáveis apurem este assassinato detalhadamente, investigando e punindo exemplarmente todos os envolvidos.
Estaremos atentos e acompanhando cada passo deste processo para que este crime não fique impune, seja enquadrado como crime “banal” ou, muito menos, caia no esquecimento, como tantos outros.
MAMEDE VIVE, SEMPRE, SEMPRE, SEMPRE!
Belém, 26 de dezembro de 2012
Conheci Mamede no final dos anos 90. Não sei muito da história desse homem, mas sei que fui apresentado a ele numa região onde diziam só prestava para criação de gado e ele trazia uma cesta com suculentas laranjas, limões, ovos, garrafas de mel e outras iguarias da terra, das plantas dos pequeno animais. Não acompanhei sua trajetória depois dessa apresentação cheia de vida. Só recentemente soube do Mamede e do LAPO. É difícil conviver com tamanha brutalidade, mas é preciso seguir em frente e combater esse tipo de comportamento arraigado na cultura da resolução dos conflitos pela eliminação do outro. Se mesmo na tristeza pudesse sugerir algo, sugeriria a família do Mamede e ao MST que transformassem o LAPO numa escola (no sentido amplo) de Agroecologia, bem ao gosto desse homem de cultura, Mamede. William Assis.
ResponderExcluirLAPO (EM HOMENAGEM A MAMEDE)
ResponderExcluirVai ser notada a ausência
Física e imediata
Do criador do LAPO
Nas nossas próximas jornadas
Porém fica com certeza
A memória forte e certa
De todas suas Lapadas.
Sem grande alarde dizia
Lapada na burguesia
Criatividade sem igual
Lapada no Capital
Diversificação que eu posso
Lapada no agronegócio
Com uma visão amiúde
Agroecologia é Saúde
Belém, 27 de dezembro de 2012.
William Assis.