segunda-feira, 5 de março de 2012

O fotógrafo da República - pequenas histórias, grandes personagens

A Praça da República é um logradouro do centro de Belém. Aos domingos é comum a ocupação do lugar nascido na belle époque por artistas, militantes políticos, comerciantes de artesanato, obras de arte, peças antigas e cães, entre outras coisas.
No domingo que passou ocorreram duas rodas de capoeira e apresentação de artistas mambembes. A praça é um lugar político. Um grupo coletava assinaturas para um abaixo assinado que visa criar Projeto de Lei de Iniciativa Popular na área de cultura.  Além da coleta de assinaturas ocorreram performances.
Um outro grupo procurava chamar a atenção para a liberdade de expressão por conta da condenação do jornalista Lúcio Flávio Pinto a pagar indenização a Cecílio de Rego Almeida (já falecido) por dano moral. Almeida foi o maior grileiro de terras do Brasil. Havia se apropriado indevidamente de terras no Xingu.
No meio da multidão da praça pulsam grandes histórias de personagens anônimos. No Bar do Parque ouvi uma dessas. José Maria era caminhoneiro. Hoje defende um troco tirando fotos com uma máquina Nikon antiga. Dessas que ainda usam filmes.  Diz achar complicado a digital.
Ele informa que comprou a máquina por uns R$50,00. Pagou mais um troco para pequenos reparos e limpeza da lente. “Eu tirei o investimento numa manhã de trabalho aqui”, contabiliza o nosso suburbano personagens.
Zé tem mais de 70 anos. É esbelto. Usa óculos. Declara que quando caminhoneiro não usou “bagulho” para ficar acordado. “Bebia uma cerveja e pinga, e aguentava o tranco”, enfatiza o nosso fotógrafo que se irrita com som em último volume. Ele mora numa vila na região metropolitana de Belém.  
Bebida e mulher são assuntos preferidos. “Eu trabalho para isso. Bebida e mulher. É com isso que gasto o meu dinheiro” entusiasma-se o senhor que adora dançar.
Maria usa sapato branco. Desses típicos da “malandragem” da antiga. Ele explica que é a melhor coisa para arrumar namorada nos bailes. Além do sapato a clássica calça de linho branco edifica identidade do dançarino, explica.
José Maria tomava uma Cerpinha no Bar do Parque. Queixava-se irritado com o barulho de uma dupla de palhaços que fazia uma intervenção próxima ao Teatro da Paz.  A dupla usava um som. Uma espécie de mini aparelhagem.  O barulho o irrita. Exibe a mão em desalinho.
Maria tira fotos de crianças e adultos. Cobra R$10,00 por duas fotos. Entrega em casa. Não recebe antecipado. Ele diz que já andou o Brasil inteiro quando caminhoneiro. E dispara contra os conterrâneos: “O nosso povo ainda é muito mal educado. Tive que denunciar os meus vizinhos por barulho. Eles colocavam o som muito alto” conta Maria.
Maria fala que mora só desde jovem. Gosta de ler e escrever. Não disse que tipo de narrativa. Ler jornais e revistas. Acompanha os noticiários. Organiza a semana a partir das fotos que tira. Ele leva as fotos para revelar e depois entrega em domicílio.
Após defender um troco na praça segue para uma churrascaria. Lá toma mais umas quatro cervejas, tira mais fotos e segue para casa.

2 comentários:

  1. A narrativa ficou clara, bem fluente. Poderias pensar numa serie de pequenas histórias-grandes personagens...postar semanalmente...as figuras do Ver-o-peso... da praça...do boteco...enfim.

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  2. Olá

    A ideia é legal
    Espero poder assalta aos poucos as histórias dos personagens anõnimos da cidade
    Sempre na medida do possível
    Att
    rogério

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