O tema meio ambiente é pauta nos
mais diversos setores: mídia, grande corporação, pequenos produtores, Estado,
pesquisadores, universidades, ONG´s e publicidade, apenas para citar alguns. E associar
o assunto à marca Amazônia maior será a relevância.
Um desdobramento do contexto tem
sido o nascimento de algumas categorias, tais como: sustentabilidade,
desenvolvimento sustentável, responsabilidade social e povos da floresta. Soma-se
a isso a criação em alguns jornais de editoriais específicas, sem falar na
pororoca de sites e mídias sociais que
gravita em torno do tema.
Não fosse algo que pudesse de
alguma forma ser capitalizado, a maior rede de TV do país não criaria portais
dedicados ao assunto, e nem programas nos mais diversos veículos que controla.
Na manhã de hoje no Centro de
Convenções Benedito Nunes, na UFPA, uma mesa formada pelos professores Antonio
Almeida do Laboratório de Mídia e Meio Ambiente, da Universidade de São Paulo (USP),
Isaltina Maria da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e Luciana Miranda,
da Universidade Federal do Pará (UFPA) engrossaram o caldo do debate no
encontro da Associação Latinoamericana de Investigadores em Comunicação
(Alaic).
O professor Almeida sublinha que
o tema na mídia tem sido tratado de maneira sensacionalista ou então
espetacular, onde a informação mais relevante, a de interesse público acaba
sendo suprimida da cobertura, manipulada e distorcida. Neste ambiente marcado
pela espetacularização, importa mais a imagem sobre meio ambiente numa
perspectiva de negócio, alfineta o investigador.
O pesquisador dá relevo ainda aos
constrangimentos que o mercado acaba impondo às matérias sobre o tema. Com um
caldo de mais de 15 anos de pesquisa, Almeida dispara que as mídias sinalizam
soluções simplistas para temáticas que são complexas.
Ao analisar uma reportagem do
Jornal Nacional sobre a construção de hidrelétricas na Amazônia, o educador
pontua itens de manipulação e omissões de dados sobre o assunto. Na reportagem pró
empreendedores de barragens, analisa Almeida, são omitidas informações que o rio Madeira, em Rondônia é tributário de
mais de setecentas espécies de peixes. As informações sobre a complexidade que
envolve a perspectiva de tais projetos na Amazônia, que tipos de interesses
mobiliza não são contempladas.
O viés econômico é que tem
orientado a cobertura sobre meio ambiente em Pernambuco, esclarece a professora
Isaltina Maria, que investiga a cobertura da mídia daquele estado sobre um
complexo que envolve um porto e uma refinaria, Suape, que existe há 30 anos, e
vem sendo incrementado.
Quando observamos as matérias, as
narrativas contemplam o horizonte do desenvolvimentismo. Os passivos sociais e
ambientais que essa modalidade de projeto socializa onde ele é instalado não
são registrados. Sabe-se que ocorre o aumento da prostituição, e as vezes até
infantil. Somente recentemente alguns blogs têm notificado tal situação. Sendo
alguns ligados a grandes jornais, pontua a pesquisadora da UFPE.
A agenda negativa costuma ser privilegiada
na pauta da grande mídia sobre a Amazônia. Sublinhe-se a má qualidade das reportagens
sobre a região da maior relevância para o futuro de inúmeras gerações. A
professora Luciana Miranda analisou matérias sobre desmatamento e queimada na
região ao longo de 30 anos nos principais meios de comunicação do país e local,
a partir de 1975.
A análise de discurso verificou
que na primeira fase o texto era mais elaborado, contextualizava a problemática
e tinha um cunho literário, além de ser longo. Naquele momento do estado de exceção,1975, a
responsabilidade do processo de desmatamento e de queimadas era creditada ao
Estado e as políticas que o mesmo elencou para a região. A agenda negativa com
imagens de parques e reservas queimando ou sendo desmatadas ajudou a cimentar
uma imagem negativa do país no exterior.
Já na década de 1980, quando o
processo de redemocratização ganha o país, o número de matérias aumenta, mas
perde em qualidade e em tamanho. Além dos madeireiros, os pequenos agricultores
passam a ser responsabilizados pela destruição da floresta, relata Miranda.
Para a pesquisadora as
reportagens carregam num certo alarmismo sobre o tema. Depoimentos e relatos das
populações consideradas tradicionais não encontrados nas matérias. Outro
elemento sublinhado por Miranda ao analisar o momento mais atual é situação dicotômica
em que as populações indígenas são recortadas: ora como “demônios”, ora como “santos”.
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