A Amazônia é um conjunto de
universos complexos. Tem gente de todo canto, por todo lado, cada um com
interesses específicos. Cá estão nas várzeas, terra firme e ilhas. A maioria
aboletada nas metrópoles Belém e Manaus. Como qualquer uma do mundo, inundada de mazelas:
especulação imobiliária, mercado informal, tráfico de drogas, trânsito caótico
e um rosário de problemas com contas a perder de vista.
No redemoinho destas complexidades,
o desmatamento é um dos elementos que conformam as múltiplas realidades de uma
infinidade de redes sociais, econômicas e políticas que esgrimam na disputa
pela terra e os recursos lá existentes. As redes estão em escalas locais,
nacionais e internacionais.
É o extrativismo, ou saque, como
preferem alguns intérpretes, que tem conectado o local ao global. Isso desde os
primeiros exploradores\colonizadores. No caso do Pará é o extrativismo mineral que tem
regido a economia.
A história é clara: a população
local, em partícular os marginalizados, que socializam entre si os passivos sociais ou ambientais. No
universo das populações consideradas tradicionais, os indígenas em particular. A
desordem agrária ou ausência de ordenamento territorial alia-se à gula dos
exploradores de madeira, a maioria ilegal. Os anos ditados pelos militares são
indicados como um marco da integração da região ao resto do país. Ainda que na
era Vargas o pontapé tenha sido dado.
O que se conhece nos dias atuais
como arco de desmatamento, que compreende desde a fronteira de Rondônia ao leste
maranhense, é um dos indicadores negativos do Plano de Integração Nacional
(PIN). No caso do Maranhão, a região é considerada uma zona de transição.
Trata-se do Cerrado, que foi derrubado para ceder lugar à soja. Sanae Hayashi, pesquisadora do Imazon, ONG com
sede em Belém que monitora o desmatamento, explica que a busca pela madeira
nobre, em particular o mogno, induziu a
violência contra a floresta e configurou o arco do desmatamento.
Dados indicam que a incidência da
chuva ou não em outras regiões do país pode ser explicada a partir do
desmatamento na Amazônia. Numa palestra proferida junto a discentes de jornalismo
da Universidade da Amazônia (UNAMA), Hayashi lembra que a polêmica em torno do debate
do Código Florestal no primeiro semestre acarretou o incremento do desmatamento
no Matogrosso. O crescimento bateu a casa dos 500%.
Ao analisar o contexto atual, a
pesquisadora pontua que no caso de Rondônia, por conta da construção das
hidrelétricas de Santo Antônio e Jirau, também ajudou a acelerar o desmatamento na região. Sobre os principais indutores da destruição da floresta despontam a exploração ilegal da
madeira e a atividade pecuária. No último caso, o governo do Pará, a partir da ação
do Ministério Público Federal (MPF) realizou anos atrás a operação Boi Pirata. Uma
tentativa de ordenar a atividade no estado.
O Imazon presta um serviço de
assessoria com a transferência mensal de dados para o MPF e outras
instituições. O objetivo é que a partir dos dados os órgãos públicos possam chegar
até os locais onde ocorrem o desmatamento e responsabilizar os criminosos.
Conforme a Hayashi, o monitoramento
sobre desmatamento na Amazônia é uma referência mundial, quando o assunto é transparência.
O complexo processo de coleta de dados envolve imagens de satélite da Nasa e do
Brasil em diferentes escalas. Um dos problemas enfrentados no monitoramento é
na época de chuva, quando a coleta de dados é prejudicada.
Pelo mesmo motivo, ocorrem ainda
dificuldades com a região que fica na linha do Equador, em particular no estado
no Amapá. Além do Mato Grosso, que
rivaliza com o Pará o primeiro lugar no ranking do desmatamento na Amazônia, a
situação tem se agravado no estado do Acre e no Amazonas. Conforme análise de
Hayashi tem ocorrido migração dos exploradores de Rondônia para estes estados. No
caso do Mato Grosso, o avanço da soja é considerado o principal vetor do
desmatamento.
Além da divulgação dos dados do
desmatamento a cada mês, o Imazon divulga o cenário anual. Por conta do avanço
sobre a floresta no Mato Grosso, a interpretação da pesquisadora é que os dados
indiquem a tendência de aumento em comparação ao derradeiro relatório. Os dados
devem ser apresentados ainda nesta semana.
O município de Paragominas hoje tem
sido uma espécie de referência na busca de reverter a situação do desmatamento no Pará.
O projeto de município verde teve início em 2007, a partir do decreto 6.321. O decreto permite o desmatamento de 40 km²
por ano. Com a medida o município é obrigado a estabelecer um plano de prevenção
e combate ao desmatamento, sob pena de não acessar políticas públicas.
O Imazon monitora a perda da floresta e as estradas legais e ilegais. Sobre o projeto da construção de
Belo Monte no Xingu, produziu um documento. Saiba mais sobre o Imazon AQUI.
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