Sábado de sol escaldante. Ver o
Peso. Meio dia. Casa cheia. Aparelhos de TV ligados em canais diferentes. Um
barulho dos diabos é a trilha sonora que embala a praça de alimentação. Não existe
sofisticação. Bancos rotos acomodam bundas nativas e de além rio-mar.
A barraca controlada pela Thais tem
lugar privilegiado. Recebe o vento que vem da baía do Guajará. Fica perto do
banheiro e de onde se embarca para o município de Barcarena. A cidade é
conhecida mundialmente por abrigar plantas industriais de alumínio.
Misturados aos comerciantes e
visitantes do lugar, uma horda de zés e marias ninguém se vira por lá. Uns pedem uns
trocados, alguns assaltam, outros simplesmente enchem a cara de cana. A famosa
buchudinha.
A Tatá é uma morena simpática.
Riso fácil. Menos de 40 anos, mãe dois filhos. Uma já taluda. Sempre trata os
visitantes de meu amor. Ela não trabalha nas terças e quartas. Alega que o
movimento não paga a empreitada de dia inteiro.
Além de cerveja ela vende cigarros,
refrigerantes e tira gosto de queijo, azeitona e presunto. Tatá gosta de dançar.
Namora com moço casado. E diz não ter mais ilusões com o amar.
Num banco da barraca da Thais um
senhor atarracado e barrigudo puxa um cochilo. Noutro banco o sax alto repousa
dentro do estojo. Ele integra uma banda que anima as tardes do mercado. Além
dele o time de músicos é composto por um surdo e um trompete. O titular da percussão
está atrasado.
O trompetista chega após o despertar
do saxofonista. Ele reclama de ressaca. Ligam para o dono do surdo, são
informados que o mesmo não irá ao mercado por conta da extração de um dente. Um
deles exclama: “logo hoje que o mercado tá cheio”. Apelam para o plano B.
Não tarda o reserva da percussão
chega. O saxofonista escolhe a melhor palheta antes de começar. Afina o surrado
instrumento. Um outro senhor, veterano de guerra no mercado entoa canções
antigas. O pontapé para a festa foi dado.
No portfólio de canções tem de
tudo: músicas antigas, merengues, salsas, e em particular hinos de futebol. E
não se pode deixar de executar os hinos dos escretes locais Remo e Paysandu. A
moça que repara as unhas dos pés e mãos dos populares troca carícias com o
namorado. Deu folga para os alicates e esmaltes. A rodada do boné entre os biriteiros banca o
cachê da trupe.
Sapo, um negro encorpado
comercializa bolas e peixeiras. Estranha combinação. Reclama da ex esposa. Faz
graça com a jovem que atende na barraca do Tadeu, vizinho de Tatá. Ele como a
mãe, uma antiga barraqueira dedicada à boêmia, coleciona filhos. A mãe nunca deixou de beber, mas, mora hoje
num interior.
Ao sair de cena, a banda toca uma
canção top dos dias de glória do rádio: “recebi um telegrama do meu velho pai,
me pedindo para voltar...o meu pai é fazendeiro na ilha do Marajó no estado do
Pará...”
Gostei... Voltei no tempo e lembrei de minhas visitas etilicas por lá.
ResponderExcluirSalve camarada
ResponderExcluirSempre passo por lá
ab