AMBIENTALISTAS SÃO ASSASSINADOS EM RESERVA EXTRATIVISTA NO SUDESTE DO PARÁ.
Hoje, por volta das 8 horas da manhã, os ambientalistas JOSÉ CLÁUDIO RIBEIRO DA SILVA e sua esposa MARIA DO ESPÍRITO SANTO SILVA,
foram assassinados a tiros no interior do Projeto de Assentamento
Extrativista, Praia Alta Piranheira, no município de Nova Ipixuna,
sudeste do Pará. José Cláudio e Maria do Espírito Santo se dirigiam de
moto para a sede do município, localizada a 45 km, ao passarem por uma
ponte, em péssimas condições de trafegabilidade, foram alvejados com
vários tiros de escopeta e revólver calibre 38, disparados por dois
pistoleiros que se encontravam de tocaia dentro do mato na cabeceira da
ponte. Os dois ambientalistas morreram no local. Os pistoleiros cortarem
uma das orelhas de José Cláudio e levaram como prova
do crime.
José
Cláudio e Maria do Espírito Santo foram pioneiros na criação da reserva
extrativista do Assentamento Praia Alta Piranheira no ano de 1997. Uma
área de 22 mil hectares, onde existia uma das últimas reservas de
Castanha do Pará, da região sudeste do Estado. Além da Castanha do Pará a
reserva é rica em açaí, andiroba, cupuaçu e outras espécies
extrativistas. Devido à riqueza em madeira, a reserva era constantemente
invadida por madeireiros do município de Nova Ipixuna e Jacundá. A área
é também pressionada por fazendeiros que pretendem expandir a criação
de gado no local.
“Eu
defendo a floresta e seus habitantes em pé, mas devido esse meu
trabalho sou ameaçado de morte pelos empresários da madeira, que não
querem ver a floresta em Pé”, denunciava José Cláudio. Ele foi o
primeiro presidente da associação do assentamento, foi sucedido na
presidência da associação por sua espora Maria do Espírito Santo. Os
dois ambientalistas eram incansáveis defensores da preservação da
floresta extrativista. Inúmeras vezes interditaram estradas internas,
pararam caminhões madeireiros dentro da reserva, anotaram as placas e
encaminharam as denúncias ao IBAMA e Ministério Público Federal. Eram
porta-vozes das mais de 300 famílias ali assentadas. Defendiam a
floresta como suas próprias vidas. Nos últimos anos passaram a serem
ameaçados de morte por madeireiros e fazendeiros.
Por diversas vezes encaminharam denúncias de ameaças sofridas, através
da CPT e do CNS, aos órgãos competentes, sempre nominando madeireiros e
fazendeiros como responsáveis pelas ameaças. No final do ano passado,
escaparam de uma emboscada, quando pistoleiros estiveram em sua casa
procurando pelo casal. Nos últimos anos, a CPT denunciou as ameaças
contra o casal no caderno de conflitos no campo. Nem a floresta nem os
ambientalistas foram protegidos pelo poder público. As castanheiras
continuaram sendo derrubadas pelos madeireiros e as duas lideranças
tombaram pelas balas criminosas de pistoleiros a mando de seus
ameaçadores.
A
responsabilidade pelas mortes dos ambientalistas recai sobre o INCRA, o
IBAMA, a Polícia Federal que nada fizeram para coibirem a extração
ilegal de castanheiras na reserva e a destruição da Floresta pelos
madeireiros e carvoeiros. Recai ainda sobre o governo do Estado do Pará
que não colocou a polícia para investigar as tantas denúncias feita por
José Cláudio e Maria do Espírito Santo. Por fim, os dois ambientalistas
são vítimas do atual modelo de desenvolvimento imposto para a Amazônia
pelos sucessivos governantes, que prioriza a exploração desenfreada e
criminosa das riquezas da floresta, em benefício do agronegócio, de
madeireiros e mineradores. As consequências são: a destruição da floresta, o saque de suas riquezas e a violência contra seus povos.
José Cláudio e Maria do Espírito Santo vivem na luta e na memória do povo!
Marabá, 24 de maio de 2011.
Comissão Pastoral da Terra – CPT
Diocese de Marabá.
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