terça-feira, 31 de maio de 2011

Matança em Nova Ipixuna - clima é de medo e apreensão


O clima no município de Nova Ipixuna é de medo e apreensão. As execuções quebraram a rotina de um lugar considerado ameno. 

Alguns moradores do Projeto Agroextrativista Praia Alta Piranheira (PAE) resolveram se ausentar do lugar, considerado de difícil acesso. 

Agentes do estado, raramente presentes no município são vistos nas ruas da pequena cidade desmembrada do município de Marabá, sudeste do Pará.

Ao menos por ora, viaturas de instituições públicas federais e estaduais integram a paisagem do município, e até helicópteros passaram a integrar os dias do lugar, agora imortalizado pela violência contra os camponeses extrativistas.   

O sul e sudeste concentram a maioria dos projetos de assentamento do país, são mais de 400, cerca de 50% do território de 36 municípios sob a responsabilidade da Superintendência do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) de Marabá.

O Massacre de Eldorado, ocorrido em 1996, nos governos de Fernando Henrique Cardoso e Almir Gabriel, ex- governador do estado, ambos do PSDB, ora no comando do governo, funcionou como um divisor de águas para o reconhecimento em massa das áreas ocupadas. Muitas delas há mais de 20 anos.  

A própria efetivação do Incra em Marabá resulta da ação reativa do Estado ante o Massacre, assim como a instalação do Ibama e do Ministério Público Federal.

A disputa pela terra e os recursos naturais sempre foi aguda nas terras do Araguaia-Tocantins, por isso a região é celebridade mundialmente conhecida onde mais se matou gente na luta pela terra no país. E ainda continua a matar.

Ao se analisar a agenda para o locus em questão, com o avanço do extrativismo mineral e as obras de infra-estrutura do governo federal e o afrouxamento no Código Florestal, tudo pode ficar bem pior.

Esse abuso de quem detém o controle de  grandes extensões de terras, e as vezes o controle de executivos municipais e assentos nos legislativos estadual e federal, resulta de nossa herança colonial.



Sérgio Buarque de Holanda ao interpretar a civilização brasileira, alerta que a mesma possui vínculos agrários abissais, herança da colonização lusa. O elemento terra significou (e ainda significa), poder político e econômico. 

Colônia marcada pela abundância de terras, e muitas delas ainda virgens, fez com que a grande propriedade se tornasse a unidade de produção.

Por conta desses elementos, a monocultura agrária, com mão de obra escrava, voltada para o mercado externo, estabeleceu o modelo de nossa sociedade agrária e a cultura de privilégios dos coronéis.

Como diz a canção de Xangai, Matança: Quem hoje é vivo, corre perigo. E os inimigos do verde, da sombra e o ar.... 

PS - Ao contrário do noticiado num telejornal de hoje, o nome de José Cládio constava  na lista dos marcados para morrer desde 2001, quando ocorreu uma audiência pública da Câmara Federal em Marabá, por conta de mais uma onda de execuções de camponeses. O ex deputado federal Babá e Nelson Pelegrino eram alguns do membros da comissão. 

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