Até o início da década o debate sobre a Amazônia
gravitava em torno do incremento da BR 163, que liga Santarém, oeste do Pará à
Cuiabá, capital do Matogrosso. A rodovia é um ingrediente das modalidades
de transporte que configuram um dos eixos de integração planejados para a
região. Os demais elementos do eixo de transporte são ferrovias e hidrovias.
Repaginar a BR 163 tem como objetivo a redução do
custo no escoamento da produção de grãos do Centro Oeste do país. Tudo bancado
com recursos públicos a partir da generosidade dos cofres do Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). As atividades do banco transbordam
as fronteiras nacionais e alcançam o continente. Analistas sobre o assunto
apontam que o BNDES superou em importância o Banco Mundial.
A base da economia da Amazônia continua a mesma
desde a presença dos primeiros saqueadores, o extrativismo. A situação do saque
se agrava posto a Lei Kandir, -cria do útero do PSDB -, garantir a isenção na
exportação de produtos primários e semi-elaborados. Somos duplamente saqueados
Além de transporte, telecomunicações e energia
completam a santa trindade de integração da Amazônia. No derradeiro eixo,
energia, a criação de consórcio tem norteado o cenário nacional. Tais
empreendimentos mobilizam cifras estratosféricas, casa dos bilhões, sem falar
nos interesses políqueiros nacionais e paroquiais. A revolta dos operários
contra as precárias condições de trabalho nas hidrelétricas do estado de
Rondônia, Jirau e Santo Antônio colocaram a periferia na agenda da mídia e do
debate político do centro do poder.
A inquietação do “povo do abismo” foi tão
retumbante que até as centrais sindicais resolveram dá sinal de vida. No
Congresso Nacional discursos são disparados a torto e a direito, na mídia
artigos e reportagens buscam analisar o assunto. Uma comentarista de importante
TV gancha a questão e detona as centrais sindicais, outros tratam os operários
como “bandidos”, um especialista sobre a região cria um mosaico sobre os fatos.
Não lembro alguém nomear as empresas que integram o consórcio.
Mas, parece que a maioria não atenta ao pano de
fundo, que a meu ver tem relação com a disputa pelo território e os recursos naturais,
a partir de grandes corporações. Os projetos agendados no Programa de
Aceleração do Crescimento (PAC) para a Amazônia têm ratificado a indiferença
aos direitos humanos, e em particular às populações locais que em regra
socializam as desgraças que os mega-projetos têm internalizado ao longo dos
séculos.
A feição do Estado com relação ao desenvolvimento
da Amazônia parece irretocável desde o estado de exceção. Vale lembrar que a
cadeira principal do Ministério de Energia é ocupada por velho apoiador do
regime, que por ironia tem o sobrenome de Lobão.
Grandes corporações são bons anunciantes. Algumas
possuem esmero em associar a imagem como empresas cidadãs, e alinhadas com o
marketing e a responsabilidade social. E no próximo dia do meio compraram
páginas dos jornais e espaços em outras mídias que exibirão belas peças
publicitárias e celebraram o discurso único do processo colonial: só é possível
o “desenvolvimento” da região a partir dos grandes projetos.
Ainda hoje o ciclo da borracha (1979 a 1912) é
celebrado como indutor da modernidade nos centros urbanos dos estados do
Amazonas e do Pará. Noutro extremo silenciam-se os massacres das populações
indígenas. Aos olhos da elite e de parte de uma intelectualidade parece mais
confortante celebrar as obras arquitetônicas.
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