Meses atrás nossa cidade de Açailândia, no profundo interior do Maranhão,
brilhava de orgulho: tinha sido indicada por uma conhecida revista nacional
entre as seis cidades do Brasil que mais estão crescendo e prometendo para o
futuro.
Nessa última semana, a transmissão televisiva mais assistida no domingo à
noite apresentou outro rosto do Maranhão: atrasado, violento, impune.
Destacou-se a vergonhosa condição dos detentos, tratados como animais.
Açailândia brilhou de novo, dessa vez de uma luz escura: um menino
desaparecido há mais de ano, sem um sério inquérito policial, e o desespero de
sua mãe; um fazendeiro suspeito de dois homicídios, há meses procurado pela
polícia e denunciado pelos movimentos sociais da cidade, mas mesmo assim livre e
impune.
Quem observar de fora, talvez não entenda um contraste desses: Açailândia é
sinônimo de esplêndidas promessas de futuro e desenvolvimento... ou de injustiça
e violência à ordem do dia?
Na realidade, trata-se de uma convivência necessária, que confirma a origem e
o sustento da riqueza dessa cidade.
O chamado progresso e o acúmulo de riqueza, aqui, se deram a partir de uma
violência estrutural.
Em muitos casos, enriqueceu quem devastou a floresta, grilou as terras, fez
uso de trabalho escravo, sonegou ou corrompeu.
Ainda hoje, pelo menos aqui, o poder dos ‘ricos’ é garantido por uma justiça
seletiva, que protege com rigor e de maneira muito ágil o direito à propriedade,
mas é muito mais tolerante com aqueles que torturam, escravizam ou até mandam
matar.
Somos missionários e defensores de direitos humanos; se estamos aqui é para
tomar posição contra o silêncio imposto, contra a aliança do poder econômico e
político que em muitos casos controla nossa região e até a própria lei.
Até quando a justiça permanecerá refém de quem tem mais poder?
Até quando o mito do desenvolvimento prometerá futuro para poucos pisando nas
costas de muitos outros, silenciados pelo medo ou a necessidade de
sobreviver?
Pe Dario- Justiça nos Trilhos
As leis são para que as cumpram
os pobres.As leis são feitas pelos
ricos para pôr um pouco de ordem à exploraçãoOs pobres são os únicos cumpridores de leis da
históriaQuando os pobres fizerem as
leisJá não haverá
ricos.(Roque Dalton)
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