quinta-feira, 22 de julho de 2010

Tintas ralas sobre o trecho




É possível alguma poesia no trecho? Trecho é como as pessoas mais simples tratam a fronteira. Como se fosse uma identidade: “peão do trecho”. Garimpeiros, biscateiros, ambulantes, prostitutas, operários de grandes obras, camponeses, peões de fazendas, pistoleiros... Os que buscam alguma coisa. Quem sabe felicidade. São desgarrados?


Uns pensam em amor, fortuna, sossego, trabalho.....O sudeste do Pará é o trecho em questão. Marabá é a cidade pólo. A Transamazônica a corta. Em algumas partes a rodovia passa por duplicação. O município com cerca de 300 mil habitantes lembra uma cidade de filme de faroeste. Soa embrutecido. O rio Tocantins o irriga. Há quem ironize que poderiam explodir o lugar não fosse o rio.


Uma jovem negra, gordinha, filha de garimpeiro com uma dona de casa, explica sobre a trilha sonora que impera na região. Ela fez faculdade. Ao contrário dos pais migrantes. A música sertaneja e de “dor de corno” ou dos cabarés cortam bairros e vilas. “Vou pedir à lua que ilume a rua. Saber onde você se esconde”....não tenho idéia da autoria. Faz sucesso por aqui. Um clássico. Vamos falar assim.


A moça argumenta que as canções expressam em certa medida a trajetória do migrante. É gente que não tem nada em sua maioria. Aí você pode encontrar esperança, amor, as desventuras da vida, os fracassos e os alguns sucessos.....as solidões.....a fronteira é porrada. As vezes somente com cachaça para aguentar o tranco, arremata.


As feiras configuram um excelente lugar para sacar essas coisas. A Feira da 28 fica num dos núcleos urbanos da cidade de Marabá. É verão, Tempo de queimada. O sol é escaldante. As bancas estão repletas de belas melancias. Umas caixas de madeira com telas protegem a carne de sol das moscas e cães.


O trecho é cheio de migrante. Uma festa de nordestinos. Num bar e restaurante da Folha 28, uma senhora manda. É enérgica. Um peão de fazenda pede a cerveja. Exige uma música. Ela dispara: não sentou um tijolo. Quer pedir música. O peão fica quieto. Joga bilhar com o parceiro. Paga adiantado a ficha do jogo. Não demora e vai embora.


O bar é simples. Asseado. Alguém chega com o violão. Tarde de sábado. Um gordo de meia idade afina. Canta tímido. A roda vai se formando. Cantam fregueses e trabalhadores do bar. A dona também. Amado Batista, Bartô Galeno, José Rico e Milionário, Almir Rogério, Fernando Mendes....e por aí vai.


Uma moça esconde as lágrimas atrás dos óculos escuros. Tem cabelos tingidos de amarelo. É forte. Mas, lagrima. Pensará em que?

Nenhum comentário:

Postar um comentário