quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Nas terras dos Carajás: um debate sobre o saque

Os professores Jean Hébette (UFPA), Rodrigo Dantas (UnB), Wanderlei Padilha (UFPA), Bruno Malheiros (UFPA) estão entre os professores que animarão os debates do Seminário Interações entre o Global e o Local, que iniciou ontem, 17, no campi da Universidade Federal do Pará (UFPA), do município de Marabá, sudeste do Pará.

O encontro que encerra no dia 19 tem como objetivo refletir sobre as tensões sociais, econômicas e políticas que conformam a região.

O debate ocorre justo quando o processo de satanizar a representação popular ganha proporção na mídia. Num momento em que a disputa pelo território se aprofunda para além das fronteiras do extrativismo mineral, na latitude conhecida como região de Carajás.

Nos dias atuais há um transbordamento para outros municípios, a exemplo do que ocorre em Ourilândia do Norte, Xinguara, São Félix do Xingu e Juruti, a oeste do estado. Tem-se ainda no sudeste do Pará nos derradeiros anos a presença de um novo sujeito, o banqueiro Daniel Dantas. O mesmo é acusado através de seu braço rural, a Agropecuária Santa Bárbara, de lavar dinheiro na região adquirindo fazendas.

Terras em particular em nome da família Mutran, que se apropriou ilegalmente de propriedades públicas cedidas através do expediente de aforamento. A ferramenta jurídica concede apenas direito de uso para o extrativismo, quando ali era frondosa uma floresta de castanha.

Além da apropriação de terras públicas há os crimes ambientais, como a derrubada da floresta para a instalação da pecuária. Tudo devidamente já registrado no Ministério Público Federal. E nada disso é contextualizado nos noticiários.

Noticiários que tal os registros dos colonizadores ou alguns romances, sempre tenderam ao enquadramento pejorativo das pelejas populares dos negros, dos índios e dos mestiços. Assim o que se convenciona chamar de elite local, sempre tratou os Cabanos como esfarrapados, bandidos e saqueadores.

Assim a mesma elite ratifica a leitura de tempos idos. Da mesma forma, no complexo xadrez na disputa pela terra e as riquezas locais, tem sido mister o tratamento com relação às populações originárias (quilombolas e indígenas), camponeses, extrativistas, pescadores e tantas outras modalidades da vasta diversidade social local.

Sempre tratados como uma representação do atraso. Gente que deve se submeter ao processo de “eficiência capitalista”, ao invés de questioná-lo. A elite zanga, como se questionasse: quem é essa gente? Deveriam levar as mãos aos céus e agradecer...


A gente esfarrapa e humilde ao questionar o processo de desenvolvimento, sente o peso da lei e da construção simbólica como se fossem a encarnação do capeta na terra. Tem sido a homogeneização a perspectiva das experiências econômicas na região, baseada no extrativismo. Uma lógica em que a única coisa socializada é a tragédia dos assassinatos, a impunidade, o desmatamento e o trabalho escravo.

Uma lógica que se espraia pela Pan-Amazônia e a América Latina, onde o estado brasileiro tem peso significativo. Peso encarnado na cessão a juros módicos de fortunas para a iniciativa privada nacional e internacional através do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

Assim o Estado garante através de vasto recurso, afrouxamento nos processos de licenciamentos e revisão de territórios já estabelecidos, como os quilombolas o estupro às riquezas locais de corporações como Alcoa, Vale, Tractebel, Camargo Correa, entre tantas.

Na disputa pela terra e as riquezas cá existentes, é como se proclamassem: é preciso limpar o terreno: seja através de marcos legais ou não, e em particular, no universo simbólico através da mídia.

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