sábado, 1 de novembro de 2008

Coisas da política




Faz uma semana hoje que o povo belenense aprovou a política de asfalto do prefeito reeleito Duciomar Costa (PTB). O falso médico disputou com o PMDB de José Priante no segundo turno a cadeira do palácio Antonio Lemos.

Ufa! Melhor para a saúde financeira do grupo Liberal, que não conta com as benesses do cofre do estado.

O prefeito reeleito é um populista raso. Numa cidade considerada a principal da Amazônia, ancorou o discurso numa política de asfaltamento de vias de bairros médios da capital do Pará.

Segundo ele, são mais de mil.

Numa capital prenhe de questões delicadas, como o caótico trânsito, a precariedade dos postos de saúde, ausência de uma política que motive o servidor público, Dudu, como é trato pelos íntimos, ganhou um pleito ao melhor estilo chefe de quermesse.

O curioso residiu em proclamar-se chapa do Lula, ao mesmo tempo em que espinafrava a administração anterior de Belém, por coincidência, petista em dois mandatos sucessivos.


O grande fiasco foi a candidata do Dem e ex-vice governadora, Valéria Pires Franco, que inflada nas pesquisas de opinião e pelo grupo Liberal, que a colocaram como a candidata que disputaria o segundo turno com Dudu, chegou em quarto lugar na reta final.


E caso a campanha contasse com mais dias, chegaria atrás do candidato do PPS, Jordy. Dizem as más línguas que a candidata vencida do Dem foi chorar as pitangas em Miami. Saiu sem dizer adeus ou agradecer os fotos que obeteve.


A falta de substância nos debates é indicado como o principal fator de sua derrota. Pior para o Dem e o tucanato que saem mais esfarrapados para a disputa em 2010.


Assim funciona a agenda dos partidos, de pleito em pleito, esquálida em debate sobre política de desenvolvimento para a Amazõnia, ou questões políticas e ideológicas.


No pleito de Belém itens político-administrativos e burocráticos ocuparam o centro da falação.

Palmério Dória adora bossa

Faltam apenas três meses para o fim das comemorações dos 50 anos da bossa. Agüente firme. Caros Amigos, edição de outubro, nº139.

Liberal fascista - deu na Caros Amigos



A cada dia mais raivoso e mais panfletário na defesa do latifúndio e dos predadores que violam o Pará, O Liberal tem produzido matérias distorcidas e mentirosas sobre os movimentos sociais e os setores progressistas da Igreja católica. Em editorial fascista contra os militantes do MST, o jornal deu o título de Pecadores e Criminosos. Só falta xingar a mãe. Hamilton Octavio de Souza- Caros Amigso de outubro, nº139.

Polícias despejam sem terra de fazenda de Fernandinho Beira-Mar

Foto: ocupação da faz. Maria Bonita, Eldorado do Carajás. Thiago Cruz/2008



Uma ação envolvendo as polícias civil, militar e federal expulsou cerca de 300 famílias organizadas pelo MST, que ocupavam desde agosto a fazenda “Nega Madalena”, no município de Tucumã, sul do Pará, no dia 30.

Segundo Charles Trocate, da coordenação do MST, a fazenda é uma das sete que se encontram sob a responsabilidade da 5ª vara da Justiça Federal de Goiás. As fazendas são áreas que pertenciam aos narcotraficantes Leonardo Mendonça e Fernadinho Beira-Mar.

O despejo quebra acordo realizado entre o Juiz Federal de Goiás, o Incra SR 27 em Marabá e as famílias do acampamento.

O acordo rezava que as famílias iriam sair da área pacificamente para que os técnicos do Incra pudessem realizar os trabalhos de identificação e vistoria do imóvel. A reunião firmou ainda que Incra compraria a fazenda em leilão. Barracos e pertences das famílias foram destruídos.

O delegado da policia federal pontuou aos que voltassem sofreriam graves conseqüências. Trocate informa que o mais grave de tudo isso, é que usaram a tática da dispersão das famílias.

O circo dos horrores foi arrematado com a pressão de armas apontadas para as famílias, obrigando-as a subirem no caminhão para serem levados para a cidade. As famílias foram impedidas de montarem acampamento as margens da estrada que liga a cidade de Tucumã a agrovila do Cuca, a 22 km da cidade. Agora os trabalhadores estão no pequeno sitio na cidade de Tucumã. Não houve nenhuma prisão, e agora planejam a reocupação.

A direção do MST responsabiliza a violência da ação ao governo Federal pela sua falta de política para Reforma Agrária, a Justiça Federal rompeu os acordos pré estabelecidos, e o governo do Estado, que só responde assim, aos interesses dos trabalhadores.
Com infomaçoes do MST-PA

sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Drama, fé e carnaval



Drama, fé e carnaval - nomeia o artigo que mergulha no universo multifacetado da maior manifestação religiosa do paraense, o Círio de Nazaré.

O artigo é assinado pelo professor Afonso Medeiros, da Universidade Federal do Pará (UFPA) e foi publicado no jornal Le Monde Diplomatique Brasil, na edição de outubro. A leitura é uma delícia.

Simples, delicado e inundado de informações o artigo trata da questão sem ser piegas. É desprovido de um sentimento de ufanismo regional, tão comum por essas paragens.

O professor acerta em cheio ao indicar que a celebração é um hibridismo onde comungam gentes de todas as estampas e os mais diversos signos religiosos e pagãos.

Não seria má idéia se o artigo fosse distribuído em escolas de nível médio e faculdades para debates.

CPT do Tocantins denuncia violência contra quilombolas

Foto-R.Almeida-quilombola Concórdia-PA











10 famílias foram expulsas da comunidade Grotão, no município de Filadélfia, no estado do Tocantins no mês de outubro. Além de expulsas as famílias tiveram as casas, roupas, mantimentos, lavouras e sacos de arroz queimados, denuncia nota da Comissão Pastoral da Terra (CPT), de Araguaína.


A violência teve início no dia 08 de outubro de 2008 com o despejo sob ordem do juiz de direito da comarca. Ricardo de Almeida.


A ordem de reintegração foi expedida a pedidos dos senhores Raimundo José de Brito e Cirilo Araújo de Brito. As famílias estão acampadas num ginásio de esportes. Ao todo são sete adultos e 20 crianças que requereram junto a Fundação Palmares reconhecimento de seu território como remanescentes de quilombo.


A nota da CPT nomeia que a ação foi realizada pela Polícia Militar com a anuência com conivência dos dois Oficiais de Justiça conhecidos como José do Fórum e Doutor Véu. Apenas duas pessoas puderam permanecer na área, que são os patriarcas Sr Cirilo, e Sr. Raimundo, que tiveram suas posses reconhecidas, e mesmo assim os dois estão isolados, por que seus filhos não puderam ficar com eles.


ATENTADO - No dia 14 de outubro por volta da meia noite foi jogada uma bomba caseira na quadra onde as famílias estão despejadas.
No dia 21 de outubro um dos netos do seu Cirilo o jovem Donizete Oliveira Reis foi preso dentro da área de seu avô, e segundo informação do mesmo, teria sido espancado pelos policiais militares.


Ele foi ouvido no 1º Distrito Policial de Araguaína e logo depois foi encaminhado para a cadeia púbica de Filadélfia e até o momento não há maiores informações.
A nota da CPT encerra sinalizando que a situação é desumana e preocupante, pois já foi protocolado no dia 17/10/08 sobre o número 08/006-8507-5 no Tribunal de Justiça do estado, um agravo de instrumento pedindo a suspensão da liminar de reintegração posse e até o momento não foi julgado.


Lembramos ainda que essas famílias se auto definem como comunidade Remanescente de Quilombo, e que no dia 15 de outubro a Fundação Palmares emitiu o certificado para essa comunidade reconhecendo como Quilombolas.
Diante da situação acima, pedimos com todo respeito as seguintes providências:
a - segurança pública para as famílias despejadas
b – Segurança Pública para os dois patriarcas que que tiveram suas posses reconhecidas e que permanecem na área o Sr Cirilo e Sr Raimundo.
c- Demarcação do território dessas famílias.

Fiscalização Móvel resgata 51 trabalhadores no Pará



Sete empresas rurais que lidavam com atividades de carvoaria na Região Norte do Brasil foram visitadas. Entre os resgatados havia sete mulheres e um menor de idade


Brasília, 30/10/2008 - O Grupo Móvel de Fiscalização do Ministério do Trabalho e Emprego realizou nova operação no estado do Pará e o resultado foi o resgate de 51 trabalhadores de situação degradante. A ação aconteceu nos municípios de Abel Figueiredo e Rondon, entre os dias 21 e 30 de outubro, sendo vistoriadas no período seis carvoarias e uma fazenda. Cinco delas estavam irregulares tanto em questões ambientas quanto trabalhistas.
Essa foi uma ação conjunta do Ministério do Trabalho e Emprego e da Polícia Rodoviária Federal, motivada por meio de denúncias da Comissão Pastoral da Terra e do Ministério Público do Trabalho. Entre os trabalhadores resgatados havia sete mulheres e um menor de idade (15 anos).

A coordenadora da operação e auditora fiscal, Virna Soraya Damasceno, informou que os empregadores não possuíam licença ambiental para produzir carvão e não tinham título da propriedade da terra. "Duas carvoarias foram encontradas em área de assentamento e os empregados estavam em situação degradante de vida e trabalho", informa.

Damasceno relata que, em todas as empresas fiscalizadas, os trabalhadores estavam sem carteira de trabalho assinada, registro, pagamento de salário e em alguns casos sem receber qualquer tipo de adiantamento. "O sistema de pagamento era por produção o que obrigava os trabalhadores a laborar diariamente. Eles ficavam três dias fora da carvoaria e depois voltavam. Faziam jornadas de 30 a 35 dias sem sair do local de trabalho e assim não tinham folga nos finais de semana", confirma.

Os empregados não contavam com Equipamentos de Proteção Individual (EPI), refeitórios, dormitórios adequados e, tão pouco, com instalações sanitárias. Segundo a auditora, eles eram obrigados a fazer suas necessidades fisiológicas na mata. "Era uma situação muito precária, não havia local apropriado para dormirem. Apesar de alguns disponibilizarem barracos de lona ou de madeira, não tinha a higiene e proteção que a lei exige", conta.

A lista de irregularidades trabalhistas se prolonga quando a coordenadora da ação descreve o esforço físico para o exercício das atividades em carvoaria, a altas temperaturas e a insalubridade dos fornos. "A situação da área de carvoaria remonta a revolução industrial, por ser muito insalubre e ter muita poeira. Aqueles que trabalhavam barreando forno não utilizavam luvas, andavam de pés descalços ou sandálias de plástico abertas. A falta de EPI agrava a situação, pois esta atividade é perigosa, estando os trabalhadores expostos constantemente ao calor dos fornos".

A auditora acrescenta também que os empregados tinham dificuldade quanto ás refeições que, por vezes, não era suficiente para todos e ao consumo de água, que vinha dos córregos.

Resultados - Ao todo, o valor líquido das rescisões contratuais foi superior a R$ 62.600. Foram lavrados 31 autos de infração; emitidas 16 Carteiras de Trabalho; solicitados 50 seguros-desempregos. Ademais, duas carvoarias firmaram Termo de Conduta com o Ministério Público, sendo que juntas tiveram de pagar coletivamente o valor de R$ 90.000 por danos morais.

Sáude e segurança do trabalhador desrespeitadas - A fiscalização encontrou o que se chama na região de "os Chapas", carregadores de carvão que chegam a levantar cestas de 40 a 50 kg. Eles depositam a mercadoria na boléia dos caminhões, mas para isso têm de subir escadas de quatro metros de altura carregando o peso. "Eles sobem correndo com os balaios, tanto pela prática como para apressar o serviço pois ganham por produção. Na maioria são jovens que exercem o carregamento, pois ninguém agüenta isso por muito tempo. Com 30 anos já apresentam problemas de coluna e deficiência para trabalhar. É muito triste, já que param por não terem condições e ficam sem aposentadoria e sem saúde", esclarece Virna.

Reincidentes - Há dois anos, o Grupo Móvel de fiscalização autuou duas das carvoarias visitadas que, na época, não foram punidas, pois uma siderúrgica se responsabilizou pelas irregularidades encontradas. Desta vez, ambas terão de arcar com o pagamento das rescisões e com os registros trabalhistas.

Assessoria de Imprensa do MTE

quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Projeto Comunicação Popular para a Cidadania


Começa nesta quinta-feira (30), em Belém, a primeira de uma série de oficinas do Projeto Comunicação Popular para a Cidadania e Direitos Humanos, voltado à formação teórica e capacitação técnica de lideranças e comunicadores populares.


O projeto, organizado por várias entidades, entre elas a Sociedade Paraense de Defesa dos Direitos Humanos (SDDH), Movimento Nacional de Direitos Humanos (MNDH) e Fórum em Defesa das Rádios Comunitárias, com o apoio da Secretaria Estadual de Comunicação (SECOM), irá percorrer nos próximos quatro meses várias regiões do estado, culminando com um grande seminário sobre o tema da comunicação como um direito humano fundamental à conquista da cidadania, dentro do Fórum Social Mundial 2009, que acontece no final de janeiro na capital paraense.

Participam desta primeira oficina cerca de 70 lideranças sociais e comunicadores populares, em especial integrantes de rádios livres e comunitárias, de 12 municípios da região metropolitana e nordeste paraense (Belém, Ananindeua, Marituba, Benevides, Santa Bárbara, Castanhal, Capanema, Bragança, Santa Isabel, Capanema, Capitão Poço, Irituia). O evento acontece no auditório da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) e vai até sábado (1º/11). A palestra de abertura do projeto será feita pelo poeta, ativista social e jornalista pernambucano Ivan Moraes, conselheiro do Movimento Nacional de Direitos Humanos.

Entidades que participam da organização da Oficina: Sociedade Paranse de Defesa dos Direitos Humanos (SDDH), Movimento Nacional de Direitos Humanos (MNNDH), Fórum em Defesa das Rádios Comunitárias (MST, NAJUP Isa Cunha, INTERVOZES Coletivo Brasil de Comunicação, Instituto Amazônia Solidária e Sustentável (IAMAS). Apoio: Secretaria Estadual de Comunicação (SECOM), Governo do Estado do Pará.

Abertura do evento: dia 30 (quinta) 8h00
Local: Auditório da CNBB – Trav. Barão do Triunfo, 3151
(entre Almirante Barroso e 25 de Setembro)

Contato para a imprensa: Rosane Steinbrenner (8888 3397) e Leslie Batista (8169 6253

FONTE- Organização do evento

Suspeito do assassinato de Irmã Dorothy é eleito prefeito



Quase três anos e oito meses depois da missionária Dorothy Stang ter sido assassinada, um de seus mais antigos aliados políticos, Francisco de Assis Sousa, o Chiquinho do PT, elegeu-se prefeito em Anapu (PA) tendo como vice o fazendeiro Délio Fernandes (PRP), investigado como suspeito de ter sido um dos mandantes do crime.


A notícia é de João Carlos Magalhães e publicada pelo portal UOL, 28-10-2008.


A aliança entre os dois causou surpresa aos seguidores da causa da religiosa. Segundo o Ministério Público do Pará, em 2005 ela recebeu seis tiros em uma estrada vicinal da cidade devido à luta com grandes fazendeiros -- Fernandes incluso -- para criar projetos de agricultura familiar em áreas supostamente griladas da região.


De acordo com José Batista, da CPT (Comissão Pastoral da Terra), Fernandes, que nunca chegou a ser processado pela morte da freira, é suspeito de ter se aproveitado dos mesmos processos de grilagens que Regivaldo Pereira Galvão, o Taradão, e Vitalmiro Bastos de Moura, o Bida, acusados de serem os mandantes do crime -- o último, inocentado neste ano.


Quando a freira foi morta, houve boatos de que o Fernandes tinha dado proteção para Bida fugir, o que não se confirmou. Todos os suspeitos ou acusados sempre negaram envolvimento na morte.


Já Chiquinho do PT, que durante sua adolescência recebeu educação religiosa de Stang, era o principal aliado da missionária no Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Anapu, do qual foi presidente.


Em 2003, ele formulou, junto com a missionária, um documento acusando Fernandes de ser grileiro de terras em Anapu. Logo depois do crime, tornou-se porta-voz da causa de Dorothy. Falava com a imprensa e se reuniu com ministros em Brasília para discutir o caso.


Mas, nos últimos dois anos, Chiquinho se afastou do grupo da freira. Para Jane Dwyer, da mesma congregação de Dorothy, a situação política na cidade, que ela disse estar "para lá de crítica", deve aumentar a pressão sobre o PDS (Projeto de Desenvolvimento Sustentável) criado pela antiga colega.


A reportagem ligou para três telefones de Fernandes durante toda a tarde de ontem, mas não conseguiu ouvi-lo. Souza também não foi localizado.

Fonte- Instituto Humanitas Unisinos-29-10-2008

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Coletivo Rádio Cipó- A inquietação cultural na quebrada da Amazônia












FOTO- divulgação do Coletivo Rádio Cipó

Há cidades na Amazônia. Ao contrário da perspectiva exuberante dos que percebem a região. Uma delas, Belém, soma mais de um milhão e meio de habitantes, cresce de costas para o rio. A cidade que é quase uma ilha coleciona favelas. Os espigões proliferam por toda parte, como o mercado informal. O cimento sufoca furos, igarapés e rios em Santa Maria do Grão do Pará, nome de batismo da capital paraense.

Não há emprego para todos. A cidade é para todos?

Os condomínios verticais ou não despontam como signos da tragédia social que conforma o país. A cidade se avoluma descoberta de saneamento básico, desprovida de transporte coletivo digno, sob um calor escaldante, sufocada em engarrafamentos.

Ela é negra, índia, branca e mestiça. Inóspita para a maioria dos filhos seus. Nela os canais proliferam, assim como as gangues e a venda de balas e picolés e a mendicância nos coletivos. É a mais barulhenta da nação.

A polícia é a presença mais constante do Estado nas quebradas, numa dessas, à Rua Álvaro Adolfo, no bairro da Pedreira, renomado pela sua boemia, abrigo de inúmeras manifestações populares germinou Coletivo Rádio Cipó.O balaio de animação cultural agrupa gente jovem e outros não tão jovens assim. A rua que é considerada celeiro de artistas, abriga uma série de grupos de carimbó.

Lá Ruy Montalvão e Carlinhos Vas encontraram D. Onete. A professora aposentada é compositora e cantora, venceu vários festivais de carimbo no estado. Mestre Bereco é outro carimbozeiro do grupo, que ainda tem o mais veterano roqueiro do Brasil, mestre Laurentino, 82 anos de praia.

O Coletivo se auto-define como um núcleo de produção de mídia sonora aliado à tecnologia de áudio digital caseira na produção de pesquisas sonoras experimentais com o objetivo de divulgar essa produção para o Brasil e no exterior. Dão seiva ao grupo MC RatoBoy (vocal), MC Jamant (vocal), Renato Chalu (guitarra), Jarede das Arabias (baixo e guitarra) e Luís Bolla (percussões), Carlinhos Vas, Mestre Laurentino e Dona Onete.
Primeiros passos

O vocalista Ruy Montalvão, “RatoBoy”, explica que a gênese de tudo se encontra no fim da década de 1990, quando o mesmo militava na banda autoral Manga Beso, ao lado de outros músicos como Carlinhos Vas, Vlad Cunha, Bernardo e Márcio Maués.

“Fervilhava o festival “Rock das 6h” na cidade e a banda iria se apresentar pela primeira vez num palco com estrutura. Ná Figueredo, conhecido animador cultural em Belém nos chamou e pediu para que um senhor, mestre Laurentino, abrisse o show da banda. Apelou que o coroa fazia um som bacana na gaita harmônica. O grupo topou e seu Laurentino caiu na graça de todos”, recorda Montalvão.

Se é necessário sorte na vida e estar num lugar certo e na hora certa, seu Laurentino foi laureado por ela. Hermano Vianna, doutor em antropologia, pesquisador na área de música e coordenador do site Overmundo, se encontrava no espetáculo. O irmão do Herbert Vianna, vocalista da banda Paralamas do Sucesso, observava o show visando. O intento do pesquisador era garimpar artistas locais para integrar a iniciativa Música do Brasil, e convidou Laurentino para o projeto. Foi a janela para o mestre ser conhecido em território nacional.

O som do Coletivo mescla a musicalidade regional com batidas eletrônicas. Soa hip hop desprovido de chatice e repetição. A sonoridade que nasceu na quebrada amazônica com ensaios realizados nas ruas do próprio bairro já ganhou o país. A via foi a divulgação através da rede mundial de computadores tanto das faixas do primeiro CD, Formigando na calçada do Brasil, lançado este ano pelo selo Ná Records, como através de videoclipes.

Uma outra possibilidade de visibilidade do trabalho do grupo é a participação em festivais considerados alternativos que pipocam em todo o país, como uma afirmação que se pode produzir sem a mediação de grandes corporações do mercado fonográfico, a cada dia mais esquálido. Assim o grupo já foi aclamado em São Paulo, Rio de Janeiro Goiás, Pernambuco e Brasília.

As músicas da Rádio Cipó impregnadas da influência do rock, dubby e ragga muffy estão postadas no site da gravadora Trama e mantém o próprio site, www.coletivoradiocipo.org. O projeto mais ambicioso do Coletivo é a produção do registro da obra do mestre Laurentino em várias mídias: DVD, CD e livro.

terça-feira, 28 de outubro de 2008

Mestre Laurentino – o neto de escravos que virou pop depois dos 70 anos













Encontramos João Laurentino da Silva, mais conhecido no mundo pop como mestre Laurentino, numa manhã ensolarada de setembro na Praça da República. O neto de escravos veio ao mundo no dia primeiro de janeiro de 1926, no município de Ponta de Pedras, arquipélago do Marajó. Aos quatro anos foi adotado pelo juiz de direito Francisco das Costa Palmeira. Não tem mais irmãos vivos e depois de adotado não manteve mais contato com os pais biológicos.


Estudou até a quinta série. Trabalhou como técnico de manutenção de aviões na extinta empresa Real Aerovias, que existiu entre 1946 a 1961. O autor do hit Lourinha Americana, que tira um sarro do pedantismo estadunidense, também passou pela roça e pela exploração da madeira. “A música é sucesso internacional.

Já recebi comentários da Itália, Portugal, França, Alemanha e até do próprio Estados Unidos”, fala com orgulho o serelepe senhor de 82 anos. A música foi gravada pela banda pernambucana Mundo Livre S/A, no CD Por pouco. Num trecho a canção dispara: Essa lourinha americana (lourinha americana)/Está querendo me escolachar/Foi dizendo que eu sou neguinho (bem neguinho)/E que na América eu não posso entrar.













O aposentado que recebe um salário mínimo por mês reflete que o mundo se encontra cheio de bandalheira e que não gosta de lari-lari. Humilde, apesar da popularidade, considera-se pequeno, menor que um grão de mostarda. Laurentino tem memória prodigiosa. Lembra de fatos históricos e políticos antigos. Como uma eleição do tempo do interventor Magalhães Barata, quando era comum se emprenhar urnas.

O mestre em detalhes
O mestre mora na ilha do Outeiro, região metropolitana de Belém com Elza Freire da Silva, com quem teve 10 filhos. Mas, somando com outros relacionamentos Laurentino contabiliza o total de 16 rebentos. Além da companheira Elza o compositor que guarda as canções que faz na cachola, tem como xodós dona Maria Josefina, acreana descendentes de europeus e a dona Leonice dos Santos. Segundo o mestre, ele ainda confere o placar em noites chuvosas.

Por cinco mil réis comprou a primeira gaita aos 18 anos. Desde menino manifestou interesse por música. Passou por incontáveis programas de auditórios nas emissoras de rádio e TV´s locais. Narra aventuras do tempo da PRC-5, atual Rádio Clube. O hoje celebrizado mestre já foi homenageado pela câmara municipal de Ponta de Pedras e em Belém.













Recentemente recebeu um incentivo da governadora Ana Júlia para a construção de uma escolinha e aquisição de instrumentos para a sua banda de rock. “Não esquece de colocar isso” exige o artista que no CD que deve ser lançado ainda este ano versa sobre a disputa eleitoral estadunidense.

Mestre Laurentino só toma vinho e há oito anos abandonou o cigarro. Adora andar e contar causos. Diz ele que chega a percorrer até 14 km quando visita o município de São Caetano de Odivelas, onde tem uma terrinha. Sem modéstia afirma que aonde chega esbandalha tudo.













“Tomo conta”, afirma o roqueiro mais antigo do Brasil. Entre as aventuras das múltiplas viagens ele conta que no festival de Goiânia os “malucos “ o apanharam do palco e o jogaram para o alto. Caiu em cima da caixa de som e quebrou os óculos.

Na manhã que comungamos nota-se a preocupação e amor do mestre pela natureza. Em certo momento da conversa ele interrompe e aponta a brincadeira de um par de passarinhos. “Coisa linda,” exclama. Além da coleção de chapéus, relógios e anéis, - as mãos sempre estão repletas deles-, o mestre coleciona cães, são mais de 14, afirma. Tirando o som com a batida das mãos ele cantarola várias canções do primeiro CD solo, em fase de produção. Numa delas filosofa: “No galho de nossas fantasias cada um tem a sua aranha”.

Fotos do Mestre Laurentino- Rosa Rocha/2008