sábado, 8 de fevereiro de 2020

Amazônia(s): pequenas inflexões sobre grandes abacaxis - em textos curtos e carregados em dados, o livro é um registro gestado direto do front amazônico


53 artigos do educador Rogerio Almeida, distribuídos por cinco seções dão alma e tutano ao livro gestado e produzido fora do eixo


Bispo do Rosário – Educador
Um conjunto pulsante de relatos colhidos direto do front, o livro Amazônia (s): pequenas inflexões sobre grandes abacaxis reúne 53 artigos agrupados em cinco seções i) Amazônia, ii) Nas terras dos Carajás, iii) Caso Dorothy, iv) Comunicação em pauta e v) Licenças nem tão poéticas.

A obra é uma produção da Editora Iguana, originada no sudeste do Pará. Obra e editora são iniciativas fora do eixo. Um intento alinhado à vida dos segmentos historicamente marginalizados. Um sopro de denuncia, urgência, ternura e poesia conferem ao livro certa unidade.

Assinada pelo educador Rogerio Almeida [Universidade Federal do Oeste do Pará], boa parte do conteúdo tem como origem uma coluna no site do Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (IBASE), ONG com sede no Rio de Janeiro, fundada pelo sociólogo Betinho [Herbert de Souza].

Em textos curtos, carregados em dados, algumas inflexões acadêmicas untadas por doses de ironia, o autor narra as disputas pela terra no Bico do Papagaio (sul do Pará, norte do Tocantins e oeste do Maranhão), e outros fronts. Os alinhavos contemplam a saga de camponeses em defesa de seus territórios, bem com as pelejas da categoria com a mineradora Vale, e questionamentos sobre a parcialidade e as limitações da mídia ao tratar temas complexos na Amazônia.

Os escrevinhamentos ligeiros de Almeida contextualizam as violências protagonizadas por fazendeiros, madeireiros, jagunços, pistoleiros e órgãos de segurança e a parcialidade do judiciário nestas tramas. Este, - via de regra - célere em expedir medidas de reintegração de posse, e, moroso em apurar chacinas e execuções de camponeses e seus apoiadores.

Apesar da região do Bico do Papagaio configurar o principal ambiente do conjunto de textos, constam inquietações sobre o Baixo Tocantins, Baixo Amazonas, Belém e São Luís, e algumas licenças poéticas [pura pretensão] fora do esquadro das disputas territoriais e simbólicas que cercam a região.

Algumas narrativas alumiam intervenções das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) e Comissão Pastoral da Terra (CPT), e sobre o caso do assassinato da missionária Dorothy Stang.   Ao lado do Movimento de Educação de Base (MEB), as CEBs e a CPT encarnaram a santa trindade da fração da Igreja Católica aliada à luta camponesa. Prática que iniciativas como a encíclica  Laudato si e o Sínodo Pan amazônico buscam recuperar.

Os dias manifestam-se tensos na fronteira amazônica. De novo, no front, tem-se o aprofundamento da hegemonia dos setores mais retrógrados da sociedade nos mais variados campos. Em ações marcadas pelo obscurantismo, a aversão à educação, à cultura e à arte, onde frações de classe ameaçam as parcas conquistas consagradas na Constituição de 1988, em franco discurso de ódio a indígenas, quilombolas e campesinos, entre outros.

É tempo de resistir, como realça o artigo que trata do Boletim Resistência, periódico editado pela Sociedade Paraense de Defesa dos Direitos Humanos (SPDDH), em tempos sombrios, na capital do Pará.

Sobre o autor
Rogerio Almeida é maranhense de São Luís/MA. É devoto do samba, maracatu, jongo, ciranda, tambor de crioula e outras manifestações de matriz africana. Possui graduação em Comunicação Social pela UFMA. Cursou especialização e mestrado em Planejamento do Desenvolvimento pelo NAEA/UFPA. Atualmente cursa doutorado em Geografia Humana, DINTER USP/UNIFESSPA/UFOPA e IFPA. É professor do Curso de Gestão Pública e Desenvolvimento Regional da Universidade Federal do Oeste do Pará (UFOPA).

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