quarta-feira, 13 de maio de 2015

Educação e TICs numa quebrada : pequeno relato sobre um dedo de prosa com educadores


Edson, o que inventou lâmpada foi quem patenteou no fim do século XIX o protótipo do primeiro mimeógrafo.

A geração smartphone não deve ter visto um em alguma sala de aula. Ainda mais nos dias ditos pós um monte coisa.

No entanto, em algumas quebradas do Pará a máquina ainda existe. Segundo um professor da educação rural no sudeste paraense, a traquitana ainda é usada vez ou outra.  Estêncil e álcool turbinam a produção (cópias) de provas e exercícios.
 
A informação foi assaltada a partir de um diálogo com educadores. O papo girava em torno de tecnologia, informação e comunicação.

A pauta gravitava em torno de louça, giz, jogos, linguagens populares, como o uso do cordel no processo ensino aprendizagem. 

A minha curiosidade era saber sobre o cotidiano dos educadores a partir destas demandas detonadas a partir das novas tecnologias. Nem tão novas assim.

Relatos de educandos-educadores narram que enquanto algumas escolas contam até com dois serviços de internet e laboratórios, noutras os recursos são básicos: TV e datashow.  

Apesar de uma escola de Marabá contar como uma estrutura razoável, os relatos dos professores denunciam a ausência de uma política de capacitação que possa otimizar o uso do laboratório e uma ação interdisciplinar entre os educadores-educandos.
 

Em Parauapebas, a cidade do minério, educadores dão visibilidades a situações delicadas. Uma educadora do zona rural informa que há cinco anos vinte computadores estão nas caixas.

A alegação é a falta de técnicos que viabilizem a instalação dos equipamentos, que além de estarem ultrapassados, devem ter sido comprometidos pela falta de uso.  

Já um educador do espaço urbano esclarece que apesar de um grande investimento em equipamentos como louças eletrônicas e computadores para a escola, educadores, educandos, como em Marabá inexiste uma política de capacitação.  

O informante denuncia que boa parte dos equipamentos foi danificado ou pela falta de habilidade do educador ou por peraltices de alguns educandos.

Em uma escola em Rondon do Pará, uma diretora conseguiu aglutinar e debater assuntos de interesse de todos os envolvidos no processo da educação: educandos, educadores e pais a partir de grupo de interesse do WhatsApp.
 
Ao apagar do dedo de prosa uma sugestão indicada foi buscar associar os conteúdos com as demandas de cidadania local e sobre o meio ambiente  a partir do uso dos recursos de comunicação para uma educação cidadã. Assunto é o que não falta.   

Turismo de base comunitária e artesanato da floresta ganham força com a fundação da primeira cooperativa do Rio Arapiuns


As atividades possibilitam às comunidades ribeirinhas valorização da autoestima e resgate da cultura tradicional
Lilian Campelo



Orgulho, realização e conquista. Foram estes os sentimentos que nortearam os comunitários no dia da fundação da primeira Cooperativa de Turismo e Artesanato da Floresta do Arapiuns, a Turiarte, em primeiro de maio na comunidade de Atodi, localizada no município de Santarém no Projeto de Assentamento Extrativista Lago Grande.

Entre sorrisos, Reginalva Godinho, primeira coordenadora da Hospedaria Comunitária de Anã, relata, com ar de satisfação, os sonhos que poderão ser realizados através da cooperativa: “Agora vamos poder cadastrar a nossa Hospedaria no Ministério do Turismo que nós sonhamos, vamos poder emitir notas fiscais na venda dos nossos serviços, hoje é a concretização de um sonho”.

O turismo de base comunitária já é uma realidade para 4 grupos comunitários da região do Baixo Arapiuns. A atividade vem sendo apoiado pelo Projeto Saúde e Alegria (PSA) desde 2002, gerando emprego e renda para cerca de 93 pessoas das comunidades de Atodi e Anã, esta fica situada na Reserva Extrativista (Resex) Tapajós-Arapiuns. Nelas encontra-se em funcionamento duas pousadas comunitárias com redário para 20 pessoas cada.

De acordo com os dados repassados pelas lideranças das duas comunidades, em 2011 Anã e Atodi receberam 98 turistas. Esse número cresceu, e em 2014 foram registrados 333 visitantes, dos quais 256 brasileiros e 77 estrangeiros, gerando uma renda de 68 mil para as comunidades.

Diversidade

O segmento não apenas vem melhorando a vida dos comunitários como impulsionou outras produções ligadas a sociobiodiversidade, como o manejo de abelhas sem ferrão, para a produção de mel, a criação de peixes, a produção de frutas e verduras e o artesanato - atividade que também vem sendo apoiada pelo Saúde e Alegria desde os anos 90.

Atualmente existem seis grupos que produzem uma diversidade de produtos artesanais oriundos da cultura tradicional, nas comunidades de São Miguel (grupo Arte Palha), Vila Gorete, (Grupo Sacaí), Vila Brasil (Grupo Brasil), Arimum (Grupo Jararaca), Urucureá (Grupo Tucumarte) e Vila Amazonas (Grupo Jacitara).

Tanto o turismo de base comunitária quanto o artesanato resgatam a cultura e os saberes tradicionais, além de contribuir com a valorização e a autoestima dos comunitários, como se observa na fala de Luzia dos Anjos, coordenadora geral do grupo Arte Palha da comunidade de São Miguel. “A Luzia de hoje faz coisas que eu nunca pensei em fazer na minha vida. É muito bom a gente tá lá em Manaus e de repente ligar a televisão e olhar as mulheres do Arapiuns, do São Miguel”, conta orgulhosa.

Ao todo são 102 artesãos, sendo 90 mulheres e 12 homens, produzindo mais de 60 artigos com vendas diretas aos visitantes nas comunidades, na sede do Saúde e Alegria, via internet e lojas em diversas cidades do Brasil.

O potencial desses dois segmentos ocasionou, com o passar dos anos, o aumento na demanda, o que exigiu dos comunitários mais organização na gestão dos seus empreendimentos. A Cooperativa de Turismo e Artesanato da Floresta – TURIARTE, conta com 70 sócios fundadores de 7 comunidades, com expressiva participação das mulheres, 54 sócias.

A Presidente eleita Maria Odila Godinho, informa que, com a cooperativa consolidada, o próximo passo será ampliar os negócios de artesanato e organizar as comunidades de Atodi e Anã, que já trabalham com o turismo, para que registrem e formalizem seus empreendimentos juntos aos órgãos federais.

Davide Pompermaier, coordenador da Unidade de Negócios Sociais do PSA, acredita que ainda existem na Amazônia poucas experiências estruturadas de turismo comunitário e menos ainda organizadas em cooperativas, e conclui: “No caso da Turiarte já temos um negócio acontecendo que se consolida com a cooperativa, então, sem dúvida, é uma iniciativa muito promissora, é um momento importante”.