sexta-feira, 4 de setembro de 2015

Tailândia - relato de viagem

O calor cozinha a carapaça cansada. O ar não funciona. 260 quilômetros separam Tailândia da capital do Pará. A viagem vai durar cinco horas no micro ônibus com capacidade de umas 20 pessoas.

Madeira, carvão e pimenta do reino dominaram a economia da região. Em 2008 por conta de ações do Ibama a cidade virou praça de guerra. Atualmente, no percurso via a PA 150, predomina o monocultivo do dendê da Vale.

O motorista, um cabeludo ao estilo vocalista de banda grunge, sabe o horário e locais onde apanhar os operários do monocultivo, que tem como objetivo a geração de biodiesel.

Além dos operários, funcionários da educação formam a clientela do transporte. Uma senhora de meia idade bem apessoada é a cobradora. É ela que atende o celular e garante a fidelidade de usuários diários. Sabe o nome de todos.
 
A falta de ar obriga que as janelas fiquem abertas. A poeira e a fumaça de queimadas acompanham boa parte da viagem. Não há rádio ou TV. É a prosa que acode para tomar o tempo.

Senhores hegemonizam a dianteira do carro. A maioria é evangélico. O papo corre solto. Fala-se sobre tudo: economia, politica, região, saúde e ecologia.  O Papão joga às 19h contra o Ceará.

A crise é a pauta. Sobram xingamentos contra o governo. Sobre os desastres naturais buscam no apocalipse a explicação. “É preciso se ligar no movimento. Atenção na palavra do senhor” crava um dos senhores.  “Tudo tende a piorar”, emenda outro. Eles comentam sobre tsunamis, terremotos, seca....

Falam ainda do tempo de antigamente, quando não se usava tanto remédio para a criação dos animais. Associam o câncer ao uso excessivo de aditivos de engorda e crescimento de galinhas e do gado. Comentam ainda o cultivo de roças, quando tratavam algumas culturas com remédio feito a partir do fumo de rolo. Fico feliz pela consciência ambiental dos coroas.  
 
Antes de um acidente com uma balsa de uma empresa que presta serviço para a Vale derrubar parte da ponte sobre o rio Guamá, perto da cidade de Mojú, a viagem era realizada em três horas. O calor incomoda. Apesar disso, consigo dormir. Quando há sinal de internet, ouço Flores de Amsterdam, de Lui Coimbra.

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