quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

Educação do\no campo em Carajás e a radicalização da democracia

 
Edeildo e Neiriane celebram aniversário nesta semana. Eles são educadores na zona rural do sudeste paraense. O casal integra uma turma de 13 pessoas do curso de  Educação do Campo da Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (Unifesspa), com sede no município de Marabá, sudeste do estado.  
Hoje a turma confraternizou com a realização de um almoço coletivo. Cada um trouxe um prato. O principal foi uma galinha caipira. Tudo vindo dos quintais de alguns projetos de assentamentos.
O curso é baseado na Pedagogia da Alternância do programa do Governo Federal Parfor, que visa formar os professores de zonas rurais.
A metodologia adota tempos de vivência na escola e tempos de vivência nos locais de moradia dos educandos. A turma chega a ficar fora de casa aproximadamente dois meses.
Os que não possuem parentes em Marabá dividem aluguel por temporada em kitnets. O preço é considerado salgado. O simples pode beirar até R$700,00. Há casos ainda de moradia solidária.
Em tempos de darwinismo social a solidariedade promovida pelos discentes soa estranha. Os que moram mais próximo visitam suas casas em fins de semana.
A educação é uma das dimensões mais contundentes do processo de territorialização do campesinato da região, que concentra o maior número de PA´s do país, são mais de 500 projetos.
A territorialização resulta de inúmeros conflitos, tensões, negociações e acomodações com diversos setores do poder público e privado.
No mosaico  de  disputa desse espaço podem ser encontrados: fazendeiros, madeireiros, grileiros, grandes corporações de mineração e de construção de hidrelétricas, indígenas e garimpeiros.
A caminhada do campesinato da fronteira experimentou vários mediadores que endossaram a ação dos setores populares do campo, entre eles: fração da Igreja Católica, como a Comissão Pastoral da Terra (CPT), Movimento de Educação de Base (MEB), Comunidades Eclesiais de Base (CEB´s), partidos políticos, ONG´s, intelectuais, setores das universidades públicas, entre outros.    
Pode-se evidenciar a radicalização da democracia para uma parcela da sociedade que historicamente tem sido marginalizada, expropriada e, por vezes, subjugada à condições análogas a do trabalho escravo.
O processo que soma mais de 50 anos de luta pela terra, em uma fronteira marcada pela aguda disputa pelo espaço e riquezas aqui existentes é de um significado emblemático numa sociedade erguida sob o ethos do privilégio.
Desde a integração econômica da região a expansão do capital baseada em exportação de produtos primários, com ênfase no minério, tem promovido a expropriação das populações locais.
O acesso deste público ao direito básico da educação significa um relativo avanço num país ainda marcado pela concentração de poder em mãos de poucos, onde a robusta bancada ruralista no Congresso é uma evidência dessa concentração.

Greve da educação em Marabá

Impasse continua e prefeitura não abre negociações

Prefeitura de Marabá não abre negociações com o movimento grevista dos professores. A paralisação iniciou no dia 27. Já existe campanha nas redes sociais pedindo a cabeça do secretário Bressan.

O Sindicato dos Professores do Estado do Pará (Sintepp) tem promovido passeatas acompanhadas de panfletagem nas escolas, ruas e praças em diferentes horários.

Agora pela noite ocorre esclarecimento junto à comunidade no Ginásio da Folha 16, no núcleo urbano da Nova Marabá, a partir das 19h.

Pela manhã a ação ocorreu na Praça Duque de Caxias, núcleo Cidade Velha.  

Existe a possibilidade da realização de uma assembleia amanhã. Horário a ser confirmado.  

O Sintepp acusa o prefeito João Salame de manipular dados em programas de TV´s locais, e de desconhecer a Lei Orçamentária Anual (LOA).

terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

Amazônia das terras dos Carajás

É possível ouvir o apito do trem da Vale na Folha 20. No núcleo urbano da Nova Marabá as ruas não são nomeadas. Eleger folha e quadra foi o método adotado. A ideia do desenho do núcleo se assemelha a uma castanheira. Daí opção por folhas. A medida tem inspiração em Brasília.
Em tempos idos o extrativismo da Castanha do Pará fez a fortuna de algumas famílias. Conforme reflexões da professora Marília Emmi, oligarquias que passaram a controlar vastas extensões de terras, maioria grilada.
O mogno também abundou na floresta do Tocantins-Araguaia. A mata que um dia foi frondosa cedeu lugar ao boi. A pecuária extensiva é a uma das bases da economia local.     
Em alguns quintais é a cerca de madeira que separa o público do privado. As ruas são barrentas. Neste período viram um lamaçal. A arquitetura de madeira povoa a periferia de Marabá, encharcada de migrantes, maranhenses em sua maioria. Alvo constante de piadas pejorativas.    
A Feira da 28 é a principal da nucleação. Em tempo de chuva acessar o local sem meter o pé na lama é uma missão quase impossível de quem mora em algumas transversais da proximidade.  
Conheci duas versões sobre o surgimento do espaço da Nova Marabá. A primeira narra que o espaço foi pensado para receber pessoas que vieram engrossar o quadro da sociodiversidade das terras dos Carajás em grandes projetos. Em particular no extrativismo do minério de ferro e nas obras de infraestrutura que os mesmos exigiram: Ferrovia de Carajás e a Hidrelétrica de Tucuruí, no estado do Pará, e Porto do Itaqui em São Luís, capital do Maranhão, por exemplo.
A segunda que o setor foi criado por conta da cheia dos rios Tocantins e Itacaiúnas. É tempo de chuva em Carajás. As águas estão altas.  
A Transamazônica atravessa o Núcleo. Aparta a Feira da 28 do Campus da Universidade Federal. A decisão por rodovias para a integração subordinada da economia local foi a medida tomada pela ditadura civil militar. Ela acelerou o processo de migração. Redefiniu espaços. Concentrou vastas extensões de terras nas mãos  da União.  

Intelectuais como a geógrafa Bertha Becker e o sociólogo José de Souza Martins notam que a Amazônia foi a derradeira fronteira de expansão do capitalismo. Expansão que combina a sua reprodução ampliada com o modo de acumulação primitiva como processo que fomenta a expropriação dos meios de sobrevivência das populações locais e a super exploração da força de trabalho, além da escravidão por dívida. Difícil e polêmica equação.
Não há grandes distensões sobre o desenho de exploração dos recursos naturais conferido à Amazônia. O desenvolvimento econômico imposto a tem consagrado como uma colônia exportadora de commodities.  E o trem da Vale, o maior do mundo, segue a rasgar o sertão. Faça chuva. Faço sol. A cada dia mais apressado.  Carregado de riquezas, vidas e mortes.  

Marabá - Seminário debate os 30 anos do Programa Grande Carajás


 


 
 
Questões indígena, agrária, formas de resistências e lutas, meio ambiente e siderurgia são alguns dos temas que integram a agenda de debate sobre os 30 anos do Projeto Grande Carajás (PGC), no município de Marabá, sudeste do Pará, entre 14 a 16 de março. Setores populares são os responsáveis pelo evento, como a Comissão Pastoral da Terra, MST, MAB, Movimento Debate e Ação  e o Centro de Educação, Pesquisa e Assessoria Sindical e Popular (Cepasp).
 
Tudo na Amazônia tem uma escala elástica. Quando o PCG foi criado durante a ditadura civil militar a expectativa era que o mesmo pagasse a dívida externa. O programa foi uma das estratégias de integração econômica da Amazônia. Pecuária e extrativismo foram os principais pilares do projeto.
 
O programa beneficiou grandes corporações nacionais e internacionais no processo de saque às riquezas da Amazônia oriental. Reconfigurou e continua a reconfigurar territórios da região. A intervenção do Estado na economia foi fundamental na indução dos projetos de construção da hidrelétrica de Tucuruí, Ferrovia de Carajás ao Porto do Itaqui e inúmeras rodovias.
 
A Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia (Sudam) e o Banco da Amazônia (Basa) foram as instituições criadas no sentido de azeitar a vida do capital na fronteira amazônica.
 
O projeto consagrou a privatização dos lucros e a socialização dos passivos sociais e ambientais nas terras dos Carajás. A expropriação das populações locais foi e continua sendo um dos desdobramentos do processo de inserção do capital na região.
 
Desmatamento, trabalho escravo, execução de camponeses e assessores, situação de vulnerabilidade da população jovem são alguns dos indicadores negativos. Nenhum município tem renda per capita que alcance um salário mínimo por mês. O município vizinho da mina de Carajás, Curionópolis, tem a renda per capita de R$ 108,15, quase a mesma da pequena Palestina do Pará, R$ 106,64.
 
A região vive uma nova inflexão com o inicio do projeto de extração de minério de ferro na Serra Sul (S11D), controlada pela Vale. O empreendimento encontra-se na fronteira das cidades de Parauapebas e Canaã dos Carajás, no sudeste paraense.   
 
Trata-se do maior projeto da Vale ao longo dos seus 40 anos de vida. A extração de minério é o principal item da balança comercial do Pará. Chega a responder por quase a totalidade da balança comercial. A expectativa da Vale é incrementar a produção de ferro em 90 milhões de toneladas por ano, mas com capacidade de multiplicação.
 
A iniciativa inclui mina, duplicação da  Estrada de Ferro de Carajás-EFC, ramal ferroviário de 100 km e porto, está orçada em US$ 19,5 bilhões.
Os recursos estão distribuídos da seguinte forma: a logística consumirá US$ 14,1 bilhões; US$ 8,1 bilhões serão usados na mina e na usina; enquanto US$ 2 bilhões serão usados durante o ano.
 
Como em outros empreendimentos na Amazônia, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social - BNDES é o responsável por parte dos recursos, ao lado do banco japonês Japan Bank International Cooperation - JBIC. O projeto é maior ou equivalente à primeira versão do Programa Grande Carajás - PGC, iniciado há quase 30 anos.
 
O minério que sairá da Serra Sul é considerado ainda de melhor teor que o extraído da Serra Norte, avaliado como excelente. O teor da S11D é de 66%. A Vale é líder mundial no mercado de ferro, responsável por 310 milhões de toneladas por ano.     Como em outros casos registrados na região, o início do projeto mobiliza uma série de alterações na cidade que abriga a mina e em municípios do entorno.
 
Unidades de conservação, territórios indígenas, projetos de assentamentos e outros territórios já estabelecidos também deverão deixar de existir com a construção das hidrelétricas de Santa Isabel e Marabá.


Mais informações
Evento - Seminário Carajás - 30 anos depois
Promoção: CPT, Cepasp, MST, MAB e MdA.
Onde – Campus I - UFPA - Marabá
Quando - 21 a 23 de março de 2014.
Pessoas de referência
Raimundo Gomes
Celular (94) 91325167 – email egc.neto@yahoo.com.br
Rosemayre Bezerra– Celular (94) 91591819 – email rosemayreb@yahoo.com.br
Thiago Cruz – Celular – (94) 91621757 – email – tmdacruz@yahoo.com.br