segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Pequena memória sobre o trecho I


O trecho é por excelência o espaço da desordem, da ilegalidade e da esperteza? Mesmo boteco sem atrativos na Cidade Velha, cidade de Marabá, sudeste paraense prenhe de maranhense.

A tinta do cabelo de uma pessoa do sexo masculino destoa das rugas do rosto. O traje é roto com pretensão a elegante. A fala estridente enche o ambiente. Fala em voz alta, como se quisesse que todos soubessem do cargo que ocupa como assessor de deputado.

O sujeito foi comunicador num programa policial da cidade. Desfilava nas praças com carros pegos no Detran como fiel depositário. O pequeno espaço enche. Perto do meio dia.  Um vereador processado por compra de votos na última eleição aumenta o escrete de “espertos”.  Todos fazem galhofa com a possibilidade de prisão do mesmo.

Eles comentam o “mensalinho” pago pelo prefeito da cidade. R$ 40 mil reais seria o mimo pago pelo chefe do executivo para ter projetos e contas aprovadas. Maurino Magalhães, um pentecostal deixou a cidade em frangalhos. Praticamente saiu fugido do município. Fornecedores e barnabés passaram o fim de ano à míngua.

O assessor não cessa em falar. Conta de tramoias e esquemas. E que se faz necessário uma articulação para garantir a coordenação da UFPA de Marabá. “A intenção do deputado é ganhar essa direção”, dispara o tagarela.

Ele liga para uma emissora de rádio. Pede que mandem abraços para o deputado e seus pares. Informa que o mesmo visita uma vila. Na loteria, num desses recursos de propaganda interna, uma TV exibia a face do ilustre parlamentar da Câmara Federal.

Ele é de verniz conservador. Certa vez embriagado numa feira agropecuária vociferou contra o MST. Intimou que os fazendeiros organizassem milícias e a defesa das propriedades. E mesmo que matassem os sem terra, caso fosse necessário.

Não conheço ninguém do espaço. Sempre fico só. Opção para facilitar deslocamento ou ficar um pouco mais.  Tomo a derradeira cerveja. Belisco uns pedaços de carne de porco. Fico a fitar as moças que passam. Preferência pelas rechonchudas. Renascentista coração.
Vou espiar o rio Tocantins, que nesta época do ano toma a cidade. Respiro fundo. E sigo para o ponto de ônibus. Pego uma espiga de milho verde. Matuto sobre as incertezas.

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