terça-feira, 27 de janeiro de 2009

FSM na Amazônia- pequenas inquietações a partir de nosso quintal

O geógrafo Milton Santos em suas inflexões sobre o totalitarismo do capitalismo em escala planetária sinaliza que a saída se encontra nas periferias do planeta com as suas territorialidades específicas nos campos de arte, cultura, comunicação e associações em redes. O que sugere uma dissonância ante a tentativa de homogeneização do pensamento.

Em sua 9ª edição do Fórum Social Mundial (FSM), em seu regresso ao Brasil baixou numa periferia considerada estratégica para as décadas que se seguirão, caso o mundo não exploda antes.

Quando do anúncio da realização do FSM na Amazônia a crise no mercado não constava na agenda, ainda que anunciada por alguns. O que desnuda os limites do modelo em voga.

Desde a sua realização no começo da década, um cipoal de cenários passou por significativas modificações. A democracia na América Latina soa numa perspectiva à esquerda.

A eleição pela primeira vez de um indígena na Bolívia não pode passar despercebida, tanto que mobilizou a tentativa de golpe da elite local. Equador, Venezuela, Chile indicam outras perspectivas. E qual o papel mesmo do Brasil nesse xadrez? Parceiro ou imperador?

Há um outro diferencial das edições anteriores do FSM, a presença dos representantes de Estado do continente. Positivo? Palanque?

Eis a nona versão do FSM na Amazônia. O vasto território rico em recursos hídricos, terra e os recursos nela cravados e uma pujante biodiversidade, mobiliza os mais variados interesses e debates dentro e fora da região dos mais diversos segmentos.

O FSM é realizado em Belém. A capital do segundo estado em extensão territorial do país é uma cidade que inchou sufocando seus rios e igarapés. Um milhão e meio de pessoas é a população estimada, em condições de moradia consideradas no limite da humanidade.

Chove nesses dias de FSM. As baixadas (favelas) é a parte que mais padece. Todo ano a mesma história. Como os desmoronamentos de morros nas ditas metrópoles do país. Assim como se repete a saga dos desabrigados em Santarém, oeste do estado e no município de Marabá, a sudeste.

Belém, próxima de completar 400 anos é quase uma ilha. Os rios Pará e Guamá e um mundo de afluentes formam a baía do Guajará. As capitais e as médias cidades da Amazônia do Brasil já concentram a maioria da população. O que não implica o rompimento das mesmas com o universo rural. A cidade tem o cheiro e a cor de negros e índios em suas raízes.

Mas, somos tão periferia assim, que nem mesmo os ditos espaços de comunicação da esquerda não nos dão ouvido fora de um plano de mobilização internacional como o FSM?

Aqui, ainda que um caleidoscópio de movimentos sociais seja vasto, não se consegue afinar a viola e tratar a comunicação como algo estratégico e nem mesmo se consolida um portal para servir de abrigo sobre as experiências exitosas e as denúncias de violações dos direitos humanos.

O FSM pode ser uma possibilidade? Ou ficará tudo como dantes no castelo de Abrantes, cada um em seu escaninho numa corrida desenfreada por financiador?

No segundo dia dedicado ao FSM, 28, uma parte das amazônias da Pan-Amazônia, que engloba nove países (Bolívia, Brasil, Colômbia, Equador, Guiana, Peru, Suriname e Venezuela, além da Guiana Francesa), mobilizará esforços para debater os dilemas da região. Governo, sociedade, modelo de desenvolvimento e Estado estão na berlinda.

Quais os desenvolvimentos possíveis para a região? E em nosso quintal, como equacionar a ação do Estado, ainda o principal indutor da economia numa política que cimenta trilhas já surradas, onde os passivos são socializados e os louros gozados em terras distantes?

Como será possível escapar da condição colonial de exportador de matéria prima e produtos semi-elaborados com apenas 1% do investimento em pesquisa de um esquálido recurso? O professor Gadotti costuma salientar que o processo do capital na Amazônia é um atentado contra a razão. Continuaremos no mesmo diapasão?

Para onde se lança olhos no território do Pará nota-se situações de conflito entre fazendeiros, grandes corporações e as populações tratadas como originárias. Na região do Marajó quilombolas são ameaçados pelo fazendeiro Liberato de Castro e a família Condurú, proprietária de cartório em Belém. Quilombolas também são ameaçados pelo mineroduto da Vale no município de Mojú e em Juriti a peleja é com a ALCOA, empresa americana do setor de alumínio.

No Xingu a construção de Belo Monte coloca em lados opostos indígenas e megas corporações. No Tapajós as tensões residem sobre a monocultura da soja da Cargil e camponeses, sem falar nas barragens projetadas. E assim vai.....Vamos? Para onde?

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