sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Filme vai recuperar 40 anos de militância do dirigente camponês Manoel Conceiçao Santos

Foto- Repórter Brasil

Manoel Conceição Santos, nasceu em 1935, em Pedra Grande, interior do município de Coroatá, Maranhão. É filho e neto de camponeses, um dos fundadores da CUT nacional e o terceiro nome da lista de fundação do PT Nacional. Foi preso e torturado durante a ditadura militar, quando teve uma das pernas amputadas. A trajetória do camponês vai virar filme através da inciativa da cineasta Marta Nhering, anuncia o poeta e ativista cultual Joãozinho Ribeiro.

A BATALHA DO CERRADO


Peço desculpas e licença aos leitores desta coluna para dizer que o artigo desta semana não falará de Ano da França no Brasil e nem de agendas culturais que estão acontecendo de vento em popa por todo o Estado. Porém, destacarei a fala de um dos maiores patrimônios humanos que o Maranhão possui, que é, sem sombra de dúvida, o Manoel da Conceição.
O trecho foi recolhido durante visita às comunidades da Região Tocantina, preparatória ao IV Encontro do Governo Participativo, que estará sendo realizado nos dias 28 e 29 de novembro, na cidade de João Lisboa.

“Há mais de 40 anos me rebelei contra as injustiças dessa oligarquia. Eles passaram todas as terras dessa Pré-Amazônia para grupos internacionais. O governo de Jackson ainda não é o que sonhamos. Queremos um governo muito mais forte e eu, Mané da Conceição, me sinto governo porque a gente passou 40 anos para derrubar o que estava aí. Agora, num processo, vamos ver como avançaremos todo dia, diminuindo os erros”.

“Os companheiros têm que ter a sabedoria de colocar para o nosso Jackson o que queremos, criticando o que está errado e apontando caminhos. Não podemos ser agressivos, temos que reconhecer que ouvir quem está sofrendo é coisa nova demais. Temos que congregar quem está organizado, pois só esse povo tem proposta”.


“Tenho uma confiança muito grande no Jackson. Ele como médico me salvou no episódio da perna, e como governador, ele só tem boa vontade”.

“Eu sou governo, me sinto governo porque posso conversar com o Governador na hora que quero. Ele tem sensibilidade para reconhecer que não está tudo bom, daí eu sento com ele e nunca quis sentar com a ditadura, pois ele é um homem de boa vontade”.

“Já vivi 146 anos – 73 dias e 73 noites – por isso tenho autoridade para afirmar que um período de 4 anos de governo é muito pouco para tornar o Maranhão um lugar renovado, com o povo cheio de esperança e a natureza respeitada”.

Trata-se de um depoimento lúcido, de alguém que escreveu e continua escrevendo as páginas mais sinceras da história deste Maranhão. Não a estória dos poderosos e das elites, mas aquela outra história, feita de gente, gente do mato, da terra, da luta, que continua, teimosamente, tecendo seu próprio destino e fazendo de cada colheita uma safra de esperança, sem precisar negociar seus princípios ou vender sua alma aos mercadores de consciências.

É do Mané da Conceição a frase “Minha perna é minha classe”, que deixou gravada na gaveta da memória, no episódio em que a brutalidade da repressão do Governo Sarney, amputou-lhe parte do seu corpo, após a chacina de vários companheiros lavradores no Vale do Pindaré.

Mané não negociou sua perna, nem seus ideais, apesar de barbaramente torturado pelos agentes da ditadura militar então instalada no país, precisando da intervenção do Papa para poder sair do território brasileiro. A ele dediquei um dos poemas que depois virou música e compôs a trilha sonora do premiado espetáculo “Cabra Marcado pra Morrer”. Aqui vai um pedacinho dele:

“Mané da Roça era uma lavrador
Gente do mato, do campo uma flor
Rosa da vida, semente de luz
Fruto da lida que a terra produz”.

“Era Mané, era Pedro, era João
Mandioca, milho, farinha e feijão
Terra lavrada com as mãos de amor
É terra santa, é terra sem senhor”

“Chega grileiro com arame e capim
Cerca medonha que não tem mais fim
Mandioca, milho não mais se produz
Só agonia de choro e de cruz”

“Mané da Roça não é mais Mané
Doze barrigas e uma mulher
Lavoura em luto colheita da dor
Morre no campo mais um lavrador”

Contradizendo a letra da canção, o certo é que Mané não morreu; está mais vivo do que nunca, e agora vai virar filme – “A Batalha do Cerrado”. Uma grande e bem cuidada produção da cineasta


Marta Nhering, reconhecida internacionalmente, que deve contar com várias fontes de financiamento, entre elas o Governo do Estado do Maranhão. Nada mais justo.

Através desta obra cinematográfica tenho certeza que uma outra história política do Maranhão será revelada para a presente e futuras gerações. Vários personagens devem ser conduzidos aos seus verdadeiros papéis, como protagonistas de episódios esclarecedores da situação política, econômica e social do nosso sofrido estado.


Como já nos cantava o poeta e compositor Josias Sobrinho: “O Vale do Pindaré tem segredos”.
Saiba mais sobre Mancoel Conceição http://www.ibase.br/modules.php?name=Conteudo&pid=880
Enviado por Helciane Araújo- jornalista

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