terça-feira, 7 de abril de 2020

Sobre hidroxicloroquina, malária, Tucuruí e outras bandidagens


A ideia era somente prosear sobre malária

Foto: Paulo Santos/2002/Ecodebate


Conheci hidroxicloroquina a partir de uma piada recorrente pelos arredores de Tucuruí, sudeste paraense, idos da década de 90.


A cidade abriga a maior hidroelétrica genuinamente nacional, a quarta do mundo, a produzir energia no rio Tocantins, sudeste paraense. Terra de vida. Terra de morte matada, onde o filho chora e a mãe nunca chega a saber, se a dor é de amor, se a dor é de doer ou se a dor é de morrer.

O projeto integrou o portfólio da ditadura civil militar, que ergueu os pilares para o aprofundamento da condição colonial da Amazônia.

U$$ 700 milhões era o custo estimado do projeto pensado e erguido para subsidiar empresas do capital mundial da cadeia do alumínio, Albras e Alunorte/CVRD/Norsk Hidro e o capital japonês, em Barcarena/PA, e Alumar/Alcoa/BHP Billiton, em São Luís/MA.

A obra que fez a fortuna da firma Camargo Corrêa foi a ruína para milhares de pessoas ao redor. Indígenas (Parakanã), camponeses e outros.

O custo final do negócio da China, ninguém sabe ao certo. O governo calcula em U$$ 4,5 bilhões, outros em U$$ 10 bilhões, e estudo da Comissão Mundial de Barragens estima em U$$ 7,5 bilhões, conta ensaio de Lúcio Flávio Pinto publicado em boletim do Museu Paraense Emilio Goeldi, em 2012.

No mesmo ensaio o jornalista explicita que a obra durou 37 anos até chegar ao fim. Como se diz por aqui, pense na roubalheira, desde a sua concepção na década de 1970 até o encerramento da usina. A empreita catapultou o senhor Sebastião Camargo, o dono da firma, a figurar como o primeiro brasileiro bilionário nas páginas da Forbes e da Fortune.

A sangria não cessa, Pinto adverte que o subsídio de energia bancado pelo Estado e pela sociedade durante 20 anos, - desde os anos 1980 aos anos de 2000, - para as empresas Albras e Alunorte, totaliza uns U$$ 2 bilhões, dinheiro suficiente para construir outra planta industrial.

Somente as usinas do Pará consomem 3% de toda energia do país. Água e energia representam os principais insumos da cadeia. Tá ligado no saque das pessoas de bem?


As 23 turbinas da usina são responsáveis por quase 10% de toda energia gerada do país. A usina é tida como a maior obra pública já erguida na Amazônia, e consta entre as cinco maiores do país. Assim como em Belo Monte, Delfim Neto, um dos baluartes do regime de exceção, mediou as negociatas para a compra das turbinas de Tucuruí.


Como adverte Pinto e outros intelectuais, a bandidagem foi possível por conta do regime ditatorial, sustentado pelas Forças Armadas, em particular o Exército. Desgraçadamente, o mesmo modus operandi do Estado autoritário se registrou na construção de Belo Monte, no rio Xingu, em tese, em plena “democracia” sob a insígnia do PT, e com a “consultoria” do mesmo Delfim Neto.  A mesma desgraça desejam impor ao Tapajós, com o projeto da hidroelétrica de São Luiz. 


Vim aqui somente para falar de malária e da hidroxicloroquina, mas, como um bagulho puxa o outro. Por conta do lago que a usina de Tucuruí gerou, os indicadores de malária eram expressivos, assim como a produção de gás metano, por conta da floresta submersa, e por consequência, mosquitos de tudo que é jeito e tamanho.

A concentração de peões na obra fez germinar o território do Escorre Água, espaço reservado às delícias da carne e do amor fortuito. 


E a piada? A piada residia em dizer que na cidade havia tanta malária, que quando alguém usava camisa com botões os macacos assaltavam a pessoa pensando que era comprimido de hidroxicloroquina.


Vários colegas do trecho foram agraciados com uma ou mais cruzes de malária, como se diz por aqui, ou algum tipo de hepatite.


Mais de duas décadas a rodar por aí, cabeça caiada, algumas cruzes de amores cravada ao peito, ainda continuo invicto de malária e hepatites...o que contar para os netos???

Ah, quando gitinho foi acometido por sarampo no sertão do Maranhão. Mas, aí, já são outros quinhentos. Tristeza pra mais de metro, de fazer até o burro da carroça chorar. 

domingo, 5 de abril de 2020

Em plena tragédia do Covid 19, governo planeja expulsar comunidade quilombola no MA. Matéria de Ed Wilson explica o caso


As frações de classe que hegemonizam o comando do (des) governo nacional não nutrem o menor respeito pelas populações indígenas e quilombolas. O fato já foi materializado em inúmeros discursos, em nomeações para cargos estratégicos de representantes dos setores mais conservadores da sociedade.


O governo é uma ameaça à reprodução das comunidades indígenas, camponesas e quilombolas em todo o país. O fato mais recente reside na medida em expropriar quilombolas no município de Alcântara, no Maranhão, por conta da expansão da Base de Lançamento de Foguetes, em plena tragédia da Covid-19.
 O jornalista e professor Ed Wilson examina  o caso em Matéria de seu blog.

Em um momento em que ninguém esperava, sai uma resolução dessa e as pessoas ficam aflitas, nervosas, chegando até a adoecer – Dorinete Serejo, moradora da comunidade Canelatíua e coordenadora do Movimento dos Atingidos pela Base Espacial de Alcântara (Mabe). Leia a íntegra AQUI