quarta-feira, 14 de outubro de 2020

Mulheres Amazônidas: indígenas e quilombolas protagonizam chapa coletiva em Santarém-PA.

 A defesa do território e os direitos da mulher são as principais  bandeiras da chapa coletiva Mulheres Amazônidas 

À esquerda, Alessandra Caripuna, ao centro Claudiane Lírio (cabeça da chapa),  à direita Tati Picanço, e sentada Luana Kumaruara,

Imagina ser mulher num país que possui cravado em seu DNA o gene do machismo. Imagina ser negra ou indígena num país desavergonhadamente racista e feminicida.  Como se diz pelas paragens do Pará, PENSE em ser mulher, negra ou indígena, com filhos, por consequência, fazer parte da classe trabalhadora, e se meter em Política...

Já calculou quantos obstáculos, barreiras e outros infortúnios a enfrentar no conjunto da sociedade, e muitas das vezes no seio da própria família quando se exerce a consciência de classe e investe em construir muralhas em defesa de seus direitos num ambiente minado em suas raízes por profundas desigualdades e um Estado autoritário e violento?

Agora, querida/o tente visualizar quatro mulheres, sendo duas negras e duas indígenas, no interior da Amazônia, a se rebarbar numa candidatura coletiva com vistas a exercer a vereança em uma quebrada marcada por uma agenda desenvolvimentista que ameaça a existência dos seus territórios ancestrais?

Pense nas pelejas das meninas filiadas ao PSOL, cuja agenda reside em defesa de seus territórios e outros direitos em viver de forma plena em uma arena política controlada/hegemonizada por homens brancos, muitos deles provenientes do Sul do país, “homens de negócios” da cadeia do agronegócio, e outras iniciativas à cadeia relacionadas, como a construção de obras de infraestrutura, consultorias, etc?

É desafio para mais de metro, e quando a gente conta a prosa, até o burro do carroceiro chora.  As meninas do Brasil moram em Santarém, cidade irrigada pelos caudalosos rios Amazonas e o Tapajós. A água de um é barrenta, enquanto a outra carrega em azul. Terra de sociedades complexas dos ancestrais indígenas, e em seguida, do povo negro.

Os sinais da presença ancestral constam em todo canto. Apesar das tentativas de apagamento. Aldeia é considerado um dos bairros mais antigos, e com maior extensão territorial da cidade. Lembre-se: Santarém é uma grande sítio arqueológico.  Território indígena. 

O bairro é uma das expressões da presença ancestral, bem como o pujante artesanato produzido a partir dos mais diferentes suportes: cabaças, miçangas, fibras naturais, escamas de peixe, o próprio peixe. Nas feiras, óleos e outras essências são facilmente acessados. Sabença milenar. Já que estamos em tempo de Círio, a maniçoba é cria nativa. É coisa de índio. 

À beira dos rios, muitas das embarcações resultam da engenharia da sabedoria do caboclo em selecionar a madeira mais adequada.  Tem ciência!.  Ligue-se, para o festejo, roda de carimbó, a dança circular, que celebra a igualdade, as riquezas naturais, a sabença do povo antigo, a lua e o amor.

Terra de encantados, como o muiraquitã. Terra do bravo povo mundurucu, que recentemente teve a luta de uma de suas guerreiras laureadas com o prêmio internacional de defesa dos direitos humanos, Alessandra Korap.

O Baixo Amazonas é terra de cabanos, onde a comunidade de Cuipiranga é considerada por especialistas como a derradeira frente de resistência a ser sufocada.

É deste rico solo/rios/florestas  que brotam as meninas do Brasil combativo. A Alessandra Caripuna é filha da comunidade quilombola de Pacoval, município de Alenquer. Formada em Administração é uma das principais referências femininas do movimento negro em Santarém. Caripuna é mãe de  Zinquê. 

No campo da educação atuou na Coordenação de Educação e Diversidade Etnico-Racial, da Secretaria Municipal. Nesta frente mandava a letra na formação para as equipes escolares, visando a construção de uma educação anti racista.

Mulher é bicho danado. Bate o tambor, canta e roda a saía. Caripuna faz parte da coordenação da Semana da Consciência Negra em Santarém desde 2011, em momentos de “repouso” (entenda a ironia) ocupa o front como comerciante da grife Afro Negrices Caripuna, e a partir dela anima desde 2017 a Feira de Afroempreendedores Kitanda Preta em Santarém Pará. 

Como reconhecimento de suas pelejas em 2018 foi homenageada pelos acadêmicos negros da UFOPA, onde batizaram o coletivo como “Negro Alessandra Caripuna”. Uma espécie de centro acadêmico.

A UFOPA é considerada a universidade do Brasil com o maior contingente de negros e indígenas, numa relação que não é nenhum rio de rosas.

O movimento estudantil serviu de berço para os primeiros passos políticos de Tati Picanço,  que em seguida integrou o Grupo de Consciência Indígena (GCI), onde é ativa até os dias de hoje, com trabalho junto às mulheres indígenas e no fortalecimento do departamento de mulheres do CITA. . 

A estudante de Antropologia da UFOPA faz parte da Frente em Defesa da Amazônia, e colaborou na fundação do coletivo feminista “Rosas de Liberdade”.  Picanço é do povo Caribe. A mãe de três mulheres combate a violência doméstica e atua pela humanização do parto. 

Luana Kumaruara é liderança indígena no Baixo Tapajós. Mãe de Yara e Kauê. Por três anos atuou no Conselho Distrital Saúde Indígena Guamá Tocantins - CONDISI DSEI GUATOC. Milita junto ao Departamento de Mulheres do CITA (Conselho Indígena Tapajós Arapiuns).  Na Universidade Federal do Pará (UFPA) cursa o mestrado em Antropologia, e participa do projeto Mãe D´Água, que propõe organizar vigilância do território Kumaruara.

Na produção de conhecimento sobre o seu povo integra o grupo de pesquisadoras Amazônidas "Cartografando Saberes", composto por mulheres indígenas e negras intelectuais e integra ainda  a ABIA (Articulação Brasileira de Indígenas Antropóloges). 

Assim como a Caripuna, ela foi homenageada por colegas que nomearam o Centro Acadêmico de Antropologia da Ufopa como Luana Kumaruara, por ela ser a primeira indígena a se formar no curso.

“Nós somos mulheres preparadas e decididas, e estamos aqui por uma democracia popular. Eu acredito que a Bancada de Mulheres – Vozes Amazônidas é uma virada de chave. Nós mulheres somos a nova estética política, viemos para ocupar o nosso lugar. Surara!”, defende, Luana Kumaruara.

O poeta entoaria, “mulher tem nome de flor”, a cabeça da chapa tem flor no sobrenome. Trata-se da Claudiane Lírio. A estudante de Ciência e Tecnologia da UFOPA integra a Federação das Organizações Quilombolas de Santarém (FOQS), por cinco anos fez parte Conselho Municipal de Saúde, e é ativista há mais de duas décadas. 

Lírio defende que nesta encruzilhada civilizatória em que vivemos é o momento adequado para os povos originários, e em particular as mulheres tomarem assento na política. Com relação ao começo do debate sobre formação da chapa coletiva, as ativistas explicam que o conjunto de movimentos já vinha refletindo sobre a possibilidade, e que ela se concretizou a partir de uma prosa sobre o tema. 

A chapa das Mulheres Amazônidas não é a única a ser apresentada pelo Psol, noutro campo, a chapa do Bem Viver, tem a mesma perspectiva.  Com relação de mulheres  do campo popular no legislativo de Santarém, em 2012 a trabalhadora rural Ivete Bastos (PT) exerceu uma legislatura.  Bastos é dirigente do Sindicado de Trabalhadores Rurais. 

Como diz a canção de  Bárbara Zidome; " 

Toda mulher já nasce sabendo o que quer/Nem toda mulher é menina/Encara esse mundo de frente/Valente ou então Valentina. 

Com informações da chapa Mulheres Amazônidas

Você pode doar de segunda a sexta, através da conta da bancada: 
Banco do Brasil- 
Ag- 0130-9 C/C 114.448-0 ou 
C/P 510.114-3
Claudiana Sousa Lírio. 
Cnpj: 38.774.073/0001-03


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