Carta aberta de pesquisadores/as da Ufopa em defesa da democracia
Nós,
estudantes abaixo assinados/as, vinculados/as aos Programas de Pós-Graduação da
Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa):
Recursos Naturais da Amazônia - PPGRNA,
Recursos Aquáticos Continentais Amazônicos - PPGRACAM, Sociedade, Ambiente e
Qualidade de Vida - PPGSAQ, Ciências da Sociedade - PPGCS, Educação - PPGE e
Sociedade, Natureza e Desenvolvimento – PPGSND, manifestamos o nosso repúdio às
manifestações públicas violentas e antidemocráticas vindas dos candidatos Jair
Bolsonaro e general Hamilton Mourão,e
declaramos nosso apoio à chapa de Fernando
Haddad e Manuela D’Ávila para a Presidência da República.
Jair Bolsonaro
(PSL) já fez várias homenagens públicas ao coronel
Carlos Alberto Brilhante Ustra, ex- chefe do DOI-CODI do
II Exército, um dos órgãos atuantes na repressão política, durante o período da
ditadura militar no Brasil (1964-1985). O coronel Ustra, em 2008, foi
reconhecido pela justiça
brasileira como torturador[1]. O referido coronel
já torturou mulher grávida e levou filhos para ver a
mãe sendo torturada. Jair Bolsonaro homenageou o coronel Ustra em pronunciamento na tribuna do Congresso
Nacional durante a primeira fase de votação do processo de impeachment da
ex-presidente Dilma Roussef[2]. Depois, em novembro de 2016, ao depor no
Conselho de Ética da Câmara dos Deputados, devido a processo aberto
contra ele, declarou
que Ustra é um herói nacional[3]. Não podemos, jamais, relativizar tais declarações, que, em sua essência, consistem
em apologia à tortura.
O
candidato do PSL construiu sua trajetória política em direção oposta à defesa
dos direitos humanos e à promoção da igualdade de raça, gênero e etnia. Seus
discursos incitam a violência contra mulheres, indígenas, população negra,
população LGBT. Violência contra pessoas que têm posicionamento político
divergente ao seu. Em comício na cidade de Rio Branco, Acre, Bolsonaro pegou um
tripé de filmadora e o usou como uma metralhadora de brinquedo enquanto dizia:
“vamos fuzilar a petralhada aqui do Acre”[4]. Não se trata de ser ou não filiado/a ou simpatizante do Partido dos Trabalhadores, mas achamos inadmissível um candidato que postule
a presidência da República de uma das maiores democracias do mundo usar desse lugar de fala para incitar a violência e legitimar discurso
de ódio.
Entre
as nossas grandes preocupações com esse projeto político antidemocrático está a
proposta de extinguir os ministérios do Meio Ambiente
e de Ciência, Tecnologia e Inovação
e reunir essas pautas no Ministério da Agricultura. No entendimento deles,
é preciso acelerar a implantação dos projetos de
desenvolvimento que são hoje inviabilizados por ambientalistas e acadêmicos. O
plano de governo de Bolsonaro prevê alteração brutal nos processos de
licenciamento ambiental para beneficiar os ruralistas e uma forma de produção de alimentos voltada à
exportação. Uma das ações prioritárias é desarquivar o projeto do complexo
hidrelétrico do Tapajós – projeto esse que foi arquivado pela luta do povo do
Tapajós, com destaque para o povo indígena Munduruku. A Associação Nacional dos
Servidores da Carreira de Especialista em Meio Ambiente e do PECMA emitiu uma
carta dizendo que o meio ambiente
está em perigo no Brasil
caso Bolsonaro seja eleito[5].
A
proposta de extinção do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação vincula-se
a concepção explícita no plano de governo de Bolsonaro[6] que as universidades precisam estar
alinhadas aos interesses das empresas
e formar futuros
empresários (ver páginas
do plano de governo - 46, 47, 48, 49 e 72)[7]. Por
isso, talvez, Bolsonaro queira “extirpar a ideologia de Paulo Freire” da
educação pública, para favorecer a transmissão de conhecimento exclusivamente
tecnicista em detrimento do conhecimento crítico. Está escrito no seu plano
de
governo (p.49):“Os melhores pesquisadores seguem suas pesquisas em mestrados e
doutorados, sempre próximos
das empresas”. Não é esse entendimento que nós, estudantes de pós-graduação da primeira universidade federal com sede no
interior da Amazônia, temos sobre fazer pesquisa. Precisamos ter espaço
para a ciência básica e o pensamento crítico.
Igualmente preocupante é a proposta
enunciada por Bolsonaro aos meios de comunicação, de transferir recursos do ensino superior
para a educação infantil. Essa falsa dicotomia precisa ser rechaçada: são as
universidades que formam os professores da educação infantil, e é sobretudo na
Universidade PÚBLICA que se produz conhecimento voltado ao desenvolvimento da educação em todos os níveis. Vale lembrar, por exemplo, que, na gestão de
Fernando Haddad no MEC, foi implantado o Plano Nacional
de Formação de Professores
da Educação Básica (PARFOR), através do qual as universidades públicas
ofertaram formação superior a milhares de professores da rede pública,
colaborando para o desenvolvimento da qualidade do ensino público
(inclusive da educação
infantil).
A
nossa Universidade Federal do Oeste do Pará foi criada em 2009 a partir do
Programa de Expansão das Universidades Federais – REUNI. Parte significativa
dos/as alunos/as de graduação da Ufopa
são indígenas, quilombolas e estudantes de baixa renda
que acessaram a universidade e se mantêm nela por meio
de auxílio implementado via programas sociais – como o Sistema de Cotas e o
Programa Nacional de Assistência Estudantil. Essas políticas públicas de
educação foram criadas quando o candidato a Presidência da República Fernando Haddad era Ministro da
Educação. Na sua gestão (2005-2012) foram criadas 18 novas universidades
federais, 173 campus universitários e 360 unidades dos institutos federais. Foi
criado o ProUni (Programa Universidade para Todos) e o número de alunos/as no ensino
superior, entre 2003 a 2014, aumentou de 505 mil para 932 mil. O orçamento para a
educação quando assumiu
a pasta era de R$ 20 bilhões
e aumentou para R$ 100 bilhões em 2012, quando deixou o ministério.
É inegável
os impactos positivos na vida das pessoas mais pobres desse
país com as políticas
sociais implementadas nos governos petistas. Mas isso não exime, de modo algum,
o Partido dos Trabalhadores de
inúmeros erros e equívocos que cometeram. Cada um/a de nós tem diferentes
críticas aos governos Lula e Dilma. Não estamos aqui nos posicionando em favor
da chapa PT/PCdoB sem críticas a esse projeto político. Porém, confiamos na
biografia de Haddad e Manu por se mostrarem fiéis aos princípios democráticos em suas vidas públicas.
Estamos
vivenciando um momento grave na história do país. Enquanto estudantes de pós-
graduação na Amazônia brasileira, temos obrigação de nos posicionar e lutar contra
qualquer tipo de violência, autoritarismo, opressão e supressão dos direitos sociais.
NÃO ao retrocesso e ao obscurantismo! Em defesa da educação pública e
da democracia, no dia 28 de outubro, votaremos
13!
Santarém, 15 de outubro de 2018
1) Adria Oliveira dos Santos,
PPGCS/UFOPA, RG. 3723717
2) Aline da Paixão Prezotto
Santos, PPGSND/UFOPA, RG 4639211
3) Antônio José Mota Bentes,
PPGSAQ/UFOPA, RG 4331737
4) Carla Marina Costa Paxiuba,
PPGSND/UFOPA, RG 3878825
5) Carlos de Matos Bandeira
Junior, PPGCS/UFOPA, RG 5155363
6) Cauan Ferreira Araújo,
PPGSND/UFOPA, RG 21042114-5
7) Cristiane Vieira da Cunha,
PPGSND/UFOPA, RG 4602913
8) Dárlison Fernandes
Carvalho de Andrade,
PPGSND/UFOPA, RG 4818858
PA
9) Darlisson Fernandes Bento,
PPGRNA/UFOPA, RG 5296450
10) Erick Coelho Silva,
PPGRNA/UFOPA, RG 5865608
11) Ericleya Mota Marinho Lima,
PPGSND/UFOPA, RG 5472035
12) Fabiana Gomes Fábio,
PPGCS/UFOPA, RG 17432480
13) Fabio Edir Amaral
Albuquerque, PPGSND/UFOPA, RG 3559870
14) Francisco Egon da Conceição
Pacheco, PPGE/UFOPA, RG 3886712
15) Glauce Vítor Da Silva,
PPGSND/UFOPA, RG 5330327
16) Ib Sales Tapajós, PPGCS/UFOPA, RG 5668918
17) Ítala Tuanny
Rodrigues Nepomuceno, mestre
em Ciências Ambientais PPGRNA/UFOPA, RG 5783469
18) Kerlley Diane
Silva dos Santos,
Mestre em Ciências Ambientais PPGRNA/ UFOPA, RG 5277311.
19) João Ricardo Silva,
PPGE/UFOPA, RG 5803303
20) Kátia Solange
do Nascimento Demeda,
PPGSND/UFOPA, RG 3260693
21) Lays Diniz dos Santos,
PPGCS/UFOPA, RG 6594389
22) Livia Medeiros Vasconcelos,
PPGCS/UFOPA, RG 98002381878
23) Luana Lazzeri
Arantes, PPGSND/UFOPA, RG 8634079
24) Lucas Cunha
Ximenes, PPGSND/UFOPA, RG 6041790
25) Luis Alipio Gomes,
PPGSND/UFOPA, RG 2403867
26) Maike Joel Vieira da Silva,
PPGCS/UFOPA, RG 3188506
27) Marcelo Araújo da Silva,
PPGCS/UFOPA, RG: 6048431
28) Marcelo Moraes de Andrade,
PPGSND/UFOPA, RG 3074791471
29) Marcelo Praciano de Sousa,
PPGSND/UFOPA, RG 52.420.497-4
30) Mariana Feijó
Flôres Maini, PPGCS/UFOPA, RG 200560126
31) Naiana Marinho
de Souza, PPGSND/UFOPA, RG 2002415-0
32) Nery Júnio de Araújo
Rebelo, PPGSAQ/UFOPA, RG 5743678.
33) Raimunda Lucineide
Goncalves Pinheiro, PPGSND/UFOPA, RG 1334100
34) Raquel Araújo Amaral,
PPGCS/UFOPA, RG 2461716
35) Renan Luís
Queiroz Rocha, Mestre
em Recursos Aquáticos Continentais Amazônicos/ICTA-UFOPA, RG 5905957
36) Robson Jardellys de Souza Maciel, PPGSND/UFOPA,
RG 2047151-3
37) Rubens Elias da Silva,
Professor PPGCS/PPGSAQ/UFOPA, RG. 2145756 SSPPB
38) Sueley Carvalho Costa,
PPGE/UFOPA, RG. 4792013
39) Terezinha do Socorro Lira Pereira, mestre
em Educação, PPGE/UFOPA, RG 2678587
40) Vanessa Leão Peleja,
PPGSND/UFOPA, RG 606262-3
41) Victor Martins Guedes,
PPGRNA/UFOPA, RG 6431551
42) Wandicleia Lopes de Sousa,
PPGSAQ/UFOPA, RG 262160