quinta-feira, 26 de julho de 2018

Amazônia concentra execuções de defensores do meio e da reforam agrária no Brasil


A integração da Amazônia cimentou um histórico de violência sobre as populações locais e as que para cá migraram

 Imagem apanhada do google

O Brasil é o país que mais matou defensores do meio ambiente e de terra no mundo no em 2017. A maior parte das pessoas assassinadas residia na Amazônia. A informação é da ONG Global Witnes, divulgada no início desta semana.  Conforme o relatório 57 pessoas foram executadas no Brasil, sendo 80% da Amazônia. 

Por trapaça da sorte os dados foram apresentados quando no sertão da Amazônia, na cidade de Anapu, sudoeste do Pará [o estado é líder imbatível em mortes no campo] sem terra e assentados da reforma agrária, defensores do meio ambiente celebravam a memória da missionária Doroth Stang [assassinada em 2005], e de camponeses e camponesas executados em disputas por terra. 

Além de celebrar a memória dos que tombaram por defender a reforma agraria, meio ambiente e direitos humanos, o ato teve como objetivo protestar contra a prisão do Pe Amaro. O agente pastoral da Comissão Pastoral da Terra (CPT), entre outras pessoas é quem tem tocado o trabalho da missionária. Amaro foi preso pela justiça do Pará às vésperas da semana santa deste ano. Ficou encarcerado por uns três meses.

Nada de novo front na quebrada amazônica desde a integração [física e econômica] subordinada da região ao resto do país e do mundo, ocorrida nos anos de exceção. O avanço do modo de produção de capitalista sobre a fronteira da Amazônia cimentou um rastro de crime de toda a ordem contra as populações locais, e as que para cá migraram, onde constam execuções, expropriações e espoliações. Nos dias atuais, além de execuções, os adversários agregaram ao cardápio a criminalização das ações dos movimentos populares.  

Não sem motivo, além de execuções, a região lidera desmatamento e os indicadores de trabalho escravo. As disputas por terra e os recursos que cá abundam mobilizam inúmeras redes de ilegalidade. O rosário de crimes agrupa empresas dos mais diferentes setores, grileiros de terra, escritórios de advocacia, agentes do judiciário, “puliça” de variadas patentes e segmentos [militar, civil, e por aí vai], empresas travestidas de prestadoras de serviços de segurança.  Um trem a perder de vista. 

Amazônia – terra das mortes sem fim

É emblemático, os anos 1980 entraram para a história como o período mais violento na Amazônia, em particular, no estado do Pará. Trata-se do instante em que os setores ruralistas se mobilizam para impedir a reforma agraria, a partir da conjunção do que existe de pior em nossa sociedade sob a legenda de Centrão. O setor emergiu em defesa das bandeiras mais conservadoras do país. Assim como hoje.

Ao mesmo tempo grupo criou o lado “b”, a União Democrática Ruralista (UDR). A UDR foi/é uma espécie de braço armado, incentivado em particular por Ronaldo Caiado, político goiano. Assim foram executados daquela época, os advogados Gabriel Pimenta, João Batista, Paulo Fontelles no estado do Pará, o padre Jósimo no interior do Maranhão, os sindicalistas Expedito Ribeiro, e boa parte da família Canuto, no município de Rio Maria, no sudeste do Pará e a irmã Adelaide, também no Pará. Apenas para lembrar uns casos.  Sublinhe-se: maioria dos casos é coberto pela impunidade.

Mídia e a sociedade tendem a naturalizar tais episódios, o que acaba por motivar novas chacinas e execuções, a exemplo do assassinato de nove pessoas adultas executadas por pistoleiros a 350 km da zona urbana de Colniza, município a 1.065 km de Cuiabá, no dia 19 de abril de 2017. Dois dias após a passagem de 21 anos da chacina de Carajás. Os corpos apresentaram sinais de tortura, segundo os técnicos da Perícia Oficial e Identificação Técnica (Politec) que realizaram os exames de necropsia.

Já no dia 24 de maio, após tortura, policiais civis e militares executaram 10 camponeses no município de Pau D´arco, no sul do Pará. Trata-se da mesma data do assassinato do casal de extrativistas José Cláudio e Maria do Espírito Santo. Morte ocorrida no ano de 2011, no projeto de assentamento Praia Alta Piranheira, no município de Nova Ipixuna, a sudeste do estado.

Quem diz a canção [Saga da Amazônia] do nordestino Vital Farias : “ quem hoje é vivo corre o perigo.”  Até quando?