sábado, 30 de junho de 2018

Pará, entre grilagens de terra, impunidades, arbitrariedades e balcões de negócios


Quem hoje é vivo corre perigo dos inimigos do verde, da sombra, o ar.


A parada fundiária/agrária é um dos maiores abacaxis no mundo Amazônia. E, em torno dele um catatau de redes de ilegalidades flutua. Este angu de caroço mobiliza escritórios advocatícios com más relações com a ética, grileiros de terras de variadas cepas e estampas daqui e de outras paragens, pistolagem travestida de empresa de segurança, funcionários públicos em desalinho com o interesse público, e um judiciário vigiante, ligeiro e engajado na manutenção e engorda do status quo. 

Tenho dito. Nada de novo no front. A grilagem de terras na região é um livro aberto escrito a sangue dos mais ferrados da cadeia alimentar dos dias e noites darwianas em que sobrevivemos. Sangue jorrado sobre as togas e ternos da fina flor da sociedade, em particular na década de 1980.  

Anos em que as ações da União Democrática Ruralista (UDR) desembestaram a matar gente. A tropa de elite dos fazendeiros foi forjada em terras do Goiás sob a batuta de Caiado. Nesta época Dorothy desenvolvia atividades justo na região onde mais se matou camponeses na Amazônia, o sudeste do Pará, na quebrada de Jacundá. Ali pertinho de Marabá.  Literalmente, o bicho comia. Até escritório de pistolagem havia. Sebastião da Terezona e Quincas Bonfim eram os “trezoitão” de fama.  

Levanto a bola para rabiscar porcas linhas sobre a prisão do migrante religioso, agente pastoral da Comissão Pastoral da Terra (CPT), padre Amaro. O maranhense foi parça da missionária estadunidense executada em 2005, Dorothy Stang. Com a execução da missionária, caiu no colo dele a pelota em tocar o barco na quebrada. 

Ele foi enquadrado e encarcerado por três meses sob acusações similares que tentaram colocar Stang para ver o sol nascer quadrado na escaldante cidade de Anapu, no ano de 2004. Num junho de 2004 o agronegócio a denunciou na justiça por formação de quadrilha, armar camponeses e esbulho possessório, e por aí vai. Ela depôs na “puliça” e tudo. No caso de Amaro, turbinaram com lavagem de dinheiro e abuso sexual. 

O crime Amaro reside em ser aliada dos mais desvalidos no sertão amazônico, em território agudamente disputado por grandes corporações de diferentes setores, entre eles os de infraestrutura, pecuária, mineração, etc. Assim como Amaro, tem um balaio de gente de várias frentes sendo enquadrada à régua e ao compasso da “lei” a serviço do deus mercado. 

No rosário de criminalização pela luta por direitos existem ativistas do MAB, MST, professores, assessores, advogados.  A quebra de braço entre as grandes empresas e as populações locais agrupa corporação do quilate da Vale, que literalmente manda no estado do Pará. Ela sozinha processa meio mundo de gente, são mais de 170 nos estados do Maranhão e no Pará. 

Com relação à justiça são emblemáticos alguns fatos ocorridos com relação às disputas territoriais nos grotões amazônicos no interstício da prisão do padre Amaro. O Massacre de Pau D´arco somou um ano de impunidade, os policiais envolvidos no episódio foram mandados para casa, o juiz Marco Aurélio Mello da suprema corte mandou soltar Regilvado Pereira Galvão, vulgo “Taradao”, o mandante da execução de Stang, condenado a 25 anos de prisão, e a “puliça” expulsou camponeses da região do Marajó de acampamento. 

O direito privado romano é foda. A peleja para se levar um acusado em matar camponeses e seus apoiadores é dura. Chega, em alguns casos, a durar mais de 20 anos, como os casos da família Canuto e de Expedito Ribeiro. Sejamos vigilantes. O rio não tá pra peixe. 

E, desde os anos 1990 tudo parece mais nublado nos cenários sobre a região. A nova fase do capital tende cada vez a subordinar as terras e as riquezas cá existentes aos seus interesses. Afinal, o que foi a medida em normatizar o uso de veneno? 

Rodovias, hidrovias, ferrovias para incrementar a cadeia da soja, um pacote de hidrelétricas de diferentes portes, mineração, e por aí vai, colocam em xeque o futuro da floresta, dos rios e as suas gentes. 

Como diz a canção: “ quem hoje é vivo corre perigo dos inimigos do verde, da sombra, o ar..”  Oxalá proteja Amaro e a todos nós!

Texto parido ao som do disco Deus é mulher – Elza Soares

quarta-feira, 27 de junho de 2018

2º Festival da Comunicação Sindical e Popular lança financiamento coletivo

A promoção é do Núcleo Piratininga de Comunicação [NPC/RJ], uma ONG linha de frente da comunicação popular do Brasil. Bora fortalecer!!!
 


O Núcleo Piratininga de Comunicação (NPC) e a Teia de Comunicação Popular do Brasil lançaram a plataforma de financiamento coletivo do 2º Festival da Comunicação Sindical e Popular, que será realizado no Rio de Janeiro (RJ) no dia 24 de julho. O festival faz parte do Calendário Oficial do Estado do Rio de Janeiro e a data marca o falecimento de Vito Giannotti, fundador do NPC. Leia mais AQUI

Volta Grande do Xingu - comunidades atingidas por grande projetos realizam seminário em Altamira

Grandes hidrelétricas e mineração industrial modificam as feições econômicas, espaciais, sociais e culturais da região da Volta Grande do Xingu, e animam situações de conflitos de toda ordem


Comunidades da Volta Grande do Xingu debatem nos dias 02 e 03 de julho, no Campus da UFPA, da cidade de Altamira os projetos de desenvolvimento para a região. Na pauta hidrelétrica de Belo Monte, mineração da canadense Belo Sun e o Polo Xingu. 

Além da conferência de abertura, rodas de conversa entre as populações impactadas pelos grandes projetos, consta na pauta reflexões sobre as políticas de desenvolvimento do governo e do setor empresarial. 

Com a implantação de Belo Monte, camponeses, indígenas, pescadores, extrativistas, populações de bairros periféricos foram removidos, e a feição espacial da cidade de Altamira modificada de forma radical.