Um estado dentro do estado
é uma das características das grandes corporações que operam na Amazônia. Assim,
empresas como a Alcoa, Vale, Jari, Norsk Hidro, Belo Sun e Imerys Rio Capim,
dentre outras, tendem a controlar a vida laboral e lazer dos funcionários, onde
a company town (cidade empresa) é uma das estratégias.
Para a torcida
(sociedade?), os que resistem a cooptação, o recurso adotado é a
responsabilidade social via alguns programas assistenciais e robusta
propaganda. Anúncios pagam pelo silêncio dos principais veículos de
comunicação, que ao menos em tese deveriam zelar pelo interesse público.
Nesta perspectiva,
quase nunca ocorre visibilidade dos passivos sociais e ambientais que os
grandes projetos engendram nos rincões onde desenvolvem o saque dos recursos
naturais, promovem a expropriação e espoliação junto às populações originárias.
As operações danosas à
saúde da população, como a emissão de várias modalidades de rejeitos no meio
ambiente não é monitorada ou fiscalizada pelo estado. Conforme a audiência
pública ocorrida em novembro, um dos graves problemas tem relação com os
recursos hídricos da cidade, que estariam comprometidos.
O Sindicato dos
Químicos de Barcarena, representante dos operários da Alunorte, até 2007
cumpria esse papel: denunciar os desastres das grandes empresas que operam no
município.
A Alunorte integra a cadeia produtiva do alumínio no Pará
ao lado da Albras e das minas em várias cidades do estado, a exemplo de
Paragominas e Oriximiná. Desde o começo
do projeto, no século passado, a Vale foi a acionista majoritária. Atualmente a
norueguesa Norsk Hidro detém a hegemonia.
Até aquele ano, o
sindicato integrava uma série de redes de instituições do campo popular dentro
e fora do país. Nelas era possível encontrar de pescadores da região a
pesquisadores e sindicalistas da Europa.
Seminários, publicações,
fóruns e articulações serviram como espaços de formação para o aprofundamento
do conhecimento e tomada de consciência sobre cidadania e direito. Tais espaços
possibilitaram que os crimes ambientais e sociais não ficassem circunscritos aos
ambientes paroquiais dos rincões.
Fórum Carajás, Fórum da
Amazônia Oriental (FAOR), diálogos com centrais sindicais da Alemanha e com a Universidade
de Bonn eram algumas das capilaridades do Sindicato dos Químicos. A mesmas
tiravam a empresa Vale do eixo, posto não poder coagir as falas dos
representantes do sindicato.
Foi justo contra a articulação
sindical que a empresa organizou uma chapa para a tomada da representação dos
trabalhadores em 2007. Assédio em todas direções, cooptação, e até jagunços
foram usados, denuncia nota da CUT da época.
Neste interstício, uns
ousaram organizar a oposição sindical. Gilvandro Santa Brigida, que foi um dos
fundadores do sindicato na década de 1990, é um ponta de lança. O hoje sociólogo
e educador foi recolocado na direção da casa dos operários no último dia 05,
quando da eleição, onde a chapa da Oposição Sindical obteve quase 80% dos votos
do operariado.
Em suas mãos e de
demais entrincheirados, uma hercúlea missão: recompor a instituição e recoloca-la em seu
papel de vanguarda nas lutas populares do município e reorganizar as alianças
em diversos escalas e níveis. Saravá !
Axé!