Madeira, carvão e
pimenta do reino dominaram a economia da região. Em 2008 por conta de ações do
Ibama a cidade virou praça de guerra. Atualmente, no percurso via a PA 150, predomina
o monocultivo do dendê da Vale.
O motorista, um
cabeludo ao estilo vocalista de banda grunge, sabe o horário e locais onde
apanhar os operários do monocultivo, que tem como objetivo a geração de biodiesel.
Além dos operários, funcionários
da educação formam a clientela do transporte. Uma senhora de meia idade bem
apessoada é a cobradora. É ela que atende o celular e garante a fidelidade de usuários
diários. Sabe o nome de todos.
A falta de ar obriga
que as janelas fiquem abertas. A poeira e a fumaça de queimadas acompanham boa parte
da viagem. Não há rádio ou TV. É a prosa que acode para tomar o tempo.
Senhores hegemonizam a
dianteira do carro. A maioria é evangélico. O papo corre solto. Fala-se sobre
tudo: economia, politica, região, saúde e ecologia. O Papão joga às 19h contra o Ceará.
A crise é a pauta. Sobram
xingamentos contra o governo. Sobre os desastres naturais buscam no apocalipse
a explicação. “É preciso se ligar no movimento. Atenção na palavra do senhor”
crava um dos senhores. “Tudo tende a
piorar”, emenda outro. Eles comentam sobre tsunamis, terremotos, seca....
Falam ainda do tempo de
antigamente, quando não se usava tanto remédio para a criação dos animais. Associam
o câncer ao uso excessivo de aditivos de engorda e crescimento de galinhas e do
gado. Comentam ainda o cultivo de roças, quando tratavam algumas culturas com remédio
feito a partir do fumo de rolo. Fico feliz pela consciência ambiental dos coroas.
Antes de um acidente com uma balsa de uma empresa que presta serviço para a Vale derrubar parte da ponte sobre o rio Guamá, perto da cidade de Mojú, a viagem era realizada em três horas. O calor incomoda. Apesar disso, consigo dormir. Quando há sinal de internet, ouço Flores de Amsterdam, de Lui Coimbra.