Belém.
40º na sombra. Um sol inclemente estraçalha a carapaça cansada. Assanha as caspas
do cocoroto. Provoca sede. Exalta as águas barrentas da baía do Guajará.
Ainda
não é dezembro. Camelôs transbordam nas transversais do centro comercial, indiferentes
ao rico casario colonial. Vende-se de tudo: de calcinha a papais noéis,
caráter, o corpo e a alma. Tudo tem preço.
Time
is money. A correria sufoca apreço.
Tudo
improvisado. Banca de madeira em suporte simples de ferro. Tudo fácil de
desmonte. Tudo para escapar do rapa. Belém é uma gambiara?
As
calças apertadas das atendentes chama mais atenção do que o ensurdecer grito de
ofertas. Cada loja escala em frente à casa um anunciante armado de uma caixa de
som. Tem oriental na na pista. Made in China espoca das prateleiras.
O
frisson toma conta do espaço.
Pessoas
acotovelam-se. Tacacá, vatapá e outras iguarias são comercializadas. Arrebite,
abortivo e “farinha”. Tudo no mesmo prato.
Junto e misturado.
Uma
tropa de seis PMs conduz até uma delegacia um jovem negro. Ele está descalço,
usa trajes rotos e encardidos. Um guarda exibe uma faca pequena.
Nem
todos são agraciados pelo flagrante da cana. Os que escapam negociam no Ver o
Peso o fruto do “trabalho”.
Por
entre os paralelepípedos o lixo emana, exala o cheiro podre do ralo. Baratas tropeçam
entre os enfeites de natal. Parecem inebriadas numa orgia de Baco.
Eu
tomo um trago. Espio as moças e senhoras. As fofas de preferência. Após a
gelada encarar a longa viagem de volta ao cafofo.