sábado, 25 de janeiro de 2014

Loteamentos - uma nuance de Marabá


 

Loteamentos tomam a cidade de Marabá. Assim como  em Altamira, cidade polo da região do Xingu, onde está sendo erguida a hidrelétrica de Belo Monte, os projetos passam a integrar a paisagem da urbe.

É outdoor em tudo que é canto.

A imagem da cantora Gabi Amarantos anuncia lotes a preços populares em Altamira, enquanto a face risonha da apresentadora de TV Úrsula Vidal propaga loteamentos verdes em Marabá.

Ano passado quando visitei o trecho havia notado o fenômeno.  

A tendência onde ocorre a instalação de grandes projetos tem sido o reordenamento físico, politico, econômico e social do lugar. O loteamento é uma nuance.

Preços de aluguéis ganham a estratosfera. Carros de prestadoras de serviços e ônibus de empresas terceirizadas cortam os municípios.

Parada de garimpo


Boa parte dos conhecidos de Marabá não curtiu o filme Serra Pelada. Talvez esperassem algo próximo de um doc.  

É comum histórias de fortunas e desgraças na cidade. Sempre há quem conheça alguém que passou pelo maior garimpo a céu aberto que existiu no mundo.

A saga da Serra Pelada não cessou. Existem milhares de garimpeiros que há mais de 30 anos pelejam por compensação.

Os vestígios do garimpo ainda existem no trecho. Na Trav. Santa Terezinha sobrevivem meia dúzia de ourivesarias. Elas ficam na Cidade Velha.

Numa garimpagem sem muito cuidado é possível notar traços na feição de fronteira na cidade.

Uma amiga alerta que entre os parceiros de garimpo há mais que trairagem. Existe solidariedade e companheirismo, como nos momentos de doença.

No garimpo da Ressaca, na Volta Grande do Xingu, município de Senador José Porfírio ouvimos prosas sobre o assunto. Há mais de sete meses o povo não trabalha.

A canadense Belo Sun tomou de conta do pedaço.

Em Curionópolis, cidade que abriga Serra Pelada a outra canadense, Colossos picou a mula.

Mais de 300 pessoas ficaram sem trabalho.  Um interventor tenta colocar em ordem o lugar.

Tocantins em Marabá - tempo de chuva


Janeiro. Tempo de chuvas. As famílias que moram mais próximas aos rios Itacaiúnas ou  Tocantins saem de casa.

Na Obra kolping, tradicional local de abrigo, o telhado encontra-se no chão. Todo início de ano o mesmo enredo. Caminhões circulam na cidade com os “trens” do povo.  

Janeiro. O rio corre violento. Arrasta galhos e lixo doméstico. O Tocantins tomou a praia do Tucunaré. Não há vestígio de barracas maltrapilhas e banheiros fétidos do tempo do veraneio.

Orla de Marabá. 9h da manhã. Papudinhos comungam o primeiro trago de vinho barato e pinga na Mercearia Cruzeiro, ao lado da Geleira Marujo.

Encontro William, pintor de parede, e artista sempre que pode. Traja bermuda de trabalho e camisa vermelha. Tem cara de ontem. E bafo de sempre.

Tempo cinza. Alguns comerciantes montam barracas: água de coco, cerveja, milho, água, bombons. Os restaurantes preparam a arena.

Adiante um grupo em círculo faz oração. A maioria é adulta. Parecem felizes.

O flutuante continua no mesmo lugar. O sertanejo segue imponente. Não é a melhor das canções.  

Uma casa flutuante ocupa uma parte da orla. Parece simpática. Pega energia da rede pública. Tem churrascaria, sofá e outros mimos.

O rio corre violento. Sufoca uma canoa. Não sei se lembranças. Segue sem ter começo.

Não fosse o rio a cidade teria sentido em existir?