sexta-feira, 28 de novembro de 2014

Belém - cenas natalinas nada angelicais


Belém. 40º na sombra. Um sol inclemente estraçalha a carapaça cansada. Assanha as caspas do cocoroto. Provoca sede. Exalta as águas barrentas da baía do Guajará.

Ainda não é dezembro. Camelôs transbordam nas transversais do centro comercial, indiferentes ao rico casario colonial. Vende-se de tudo: de calcinha a papais noéis, caráter, o corpo e a alma. Tudo tem preço.  

Time is money. A correria sufoca apreço.

Tudo improvisado. Banca de madeira em suporte simples de ferro. Tudo fácil de desmonte. Tudo para escapar do rapa. Belém é uma gambiara?    

As calças apertadas das atendentes chama mais atenção do que o ensurdecer grito de ofertas. Cada loja escala em frente à casa um anunciante armado de uma caixa de som. Tem oriental na na pista. Made in China espoca das prateleiras.

O frisson toma conta do espaço.

Pessoas acotovelam-se. Tacacá, vatapá e outras iguarias são comercializadas. Arrebite, abortivo e “farinha”.  Tudo no mesmo prato. Junto e misturado.

Uma tropa de seis PMs conduz até uma delegacia um jovem negro. Ele está descalço, usa trajes rotos e encardidos. Um guarda exibe uma faca pequena.

Nem todos são agraciados pelo flagrante da cana. Os que escapam negociam no Ver o Peso o fruto do “trabalho”.

Por entre os paralelepípedos o lixo emana, exala o cheiro podre do ralo. Baratas tropeçam entre os enfeites de natal. Parecem inebriadas numa orgia de Baco.  

Eu tomo um trago. Espio as moças e senhoras. As fofas de preferência. Após a gelada encarar a longa viagem de volta ao cafofo.

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