quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Direitos Humanos - hackers atacam site do Justiça nos Trilhos

O site é especializado em denunciar as mazelas sociais e ambientais da Vale
 
Foram necessários dois meses de trabalho intenso para recuperar os estragos decorrentes de uma agressão violenta de hackers ao site "Justiça nos Trilhos". Em todo esse tempo o site ficou fora do ar e as newsletters não puderam ser mandadas a seus seguidores.
 
Esse veículo de comunicação tem procurado, ao longo dos últimos quatro anos, apresentar o lado perverso dos empreendimentos da cadeia de mineração e de siderurgia no Brasil e no mundo e em especial daqueles levados a cabo pela empresa Vale S.A., que investe anualmente dezenas de milhões de reais somente em ações de propaganda.
 
O site "JnT" é expressão de uma rede de movimentos sociais, pesquisadores universitários, organizações sindicais, pastorais da igreja católica e lideranças comunitárias que se consideram atingidas pelos negócios da Vale S.A. nos Estados do Maranhão e do Pará.
 
Justiça nos Trilhos faz parte de redes mais amplas, como a Rede Brasileira de Justiça Ambiental, a Rede Internacional dos Atingidos pela Vale e o Observatorio de Conflictos Mineros de América Latina. Tem servido como fonte de informação para meios de imprensa de prestígio no Brasil e no mundo.
 
Ao longo desses anos o site "JnT" tem divulgado denúncias, pesquisas e reportagens sobre os impactos da mineração e sua cadeia de produção e escoamento, focando em especial sobre o corredor de Carajás (onde a Vale S.A. está mais investindo recentemente), mas dando ressonância a vários outros conflitos no Brasil e no mundo.
 
O ataque dos hackers aconteceu poucos dias depois de um encontro tenso que envolveu integrantes da Rede Internacional de Atingidos pela Vale e o presidente da companhia, Murilo Ferreira. Os representantes dos atingidos evidenciaram, na presença do presidente da Vale S.A., numerosas contradições da empresa, documentadas e aprofundadas no recém publicado 'Relatório de Insustentabilidade da Vale'.
 
Na ocasião, houve também a entrega oficial a Murilo Ferreira do prêmio de 'Pior empresa do mundo', reconhecimento-denúncia conferido à Vale no processo de voto popular internacional "Public Eye", organizado em sua 12a edição pelas entidades Berne Declaration e Greenpeace Suisse.
 
A ação dos hackers contra o site "JnT" coincidiu também com a campanha midiática em torno do processo de reformulação do site oficial da empresa Vale S.A., para, nas palavras dela, "reposicionar sua marca na web". Este teria sido um processo que contou com um total de 60 profissionais ligados a sua gerência de Relacionamento com a Imprensa, Conteúdo Estratégico e Mídias Digitais.
 
Nessas semanas em que o site esteve fora do ar, não foi possível aos integrantes e colaboradores de JnT divulgarem suas considerações sobre a polêmica e nefasta concessão pelo IBAMA da licença ambiental de instalação para a duplicação da Estrada de Ferro Carajás. Também foi impossível dar ressonância através desse meio às seis matérias* da reportagem especial sobre Carajás realizada pela Agência Pública de Reportagem e Jornalismo Investigativo, bem como outros trabalhos jornalísticos relevantes.
 
A Vale S.A., cujas operações são de sustentabilidade bastante duvidosa e geram efeitos fortemente impactantes nos territórios em que opera, parece ter grande interesse em esconder e disfarçar os conflitos socioambientais que provoca, ao oferecer aos acionistas e à opinião pública em geral uma maquiagem verde, fugindo do debate real a respeito dos problemas que ela mesma causa e desconsiderando a opinião dos que residem às margens de seus empreendimentos ou no interior das áreas por ela cobiçadas.
 
Se o objetivo do ataque dos hackers era silenciar a crítica e se esse ataque foi de alguma forma preparado em sintonia com a direção da companhia Vale S.A., Justiça nos Trilhos vem a público declarar sua surpresa quanto ao poder da informação alternativa contra os desmandos das grandes empresas.
 
Um modesto site, coordenado por grupos em sua maior parte voluntários e sem recursos financeiros à disposição, pode estar tendo a força suficiente para incomodar uma transnacional que se vangloria de ser a segunda maior mineradora do mundo.
 
A censura, bem como a cooptação ou a sedução de lideranças, artistas e outros profissionais, ou qualquer outro tipo de agressão ou ameaça, jamais terão o poder de cancelar os motivos de revolta que levam cada vez mais pessoas e comunidades a se reconhecerem "atingidas pela Vale" ou a se colocarem em solidariedade para/com elas.
 
O site Justiça nos Trilhos volta ao ar e se oferece às comunidades, a militantes, jornalistas, pesquisadores e estudantes como narração de uma realidade pouco difundida, sendo enxergada com os olhos das vítimas.
Atenciosamente,
A Coordenação da Rede JnT
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Reportagens da Agência Pública de Reportagem e Jornalismo Investigativo:
1. "Amazonia Pública: Estrada de Ferro Carajás" (28.11.2012), com video documentário de 5' sobre "o maior trem do mundo".
2. "Viagem a Canaã" (29.11.2012), por Marina Amaral
3. "Dentro da floresta, a Vale tem pressa" (29.11.2012), por Marina Amaral
4. "Por que a Vale foi eleita a pior empresa do mundo?" (29.11.2012), por Marina Amaral
5. "Ferro-gusa: valor desagregado" (30.11.2012), por Ana Castro
6. "Quem lucra com a Vale?" (30.11.2012), por Ana Castro

Mineração na Amazônia - 28 organizações populares realizam seminário no sudeste do PA


O regime ainda era militar quando o Programa Grande Carajás (PGC) reconfigurou a feição econômica, social, política e física do sudeste do Pará na década de 1980.

Os polos de produção (madeira, pecuário e minério) baseados no uso intensivo dos recursos naturais foram turbinados com recursos públicos da Sudam e do Basa. Na mesma época a hidrelétrica no município de Tucuruí ganhou vida, e ainda hoje é a maior do país.

Tais metas ligaram em definitivo o Pará ao resto do país e do mundo.

A Ferrovia de Carajás carrega toneladas de minério do belo vale da região até a ilha de São Luís. Até outro dia, o extrativismo mineral foi concentrado no município de Parauapebas.

Mas, desde a década passada o sul e o sudeste passam por uma nova reestruturação do cenário do extrativismo mineral, que tende a gerar riquezas além rio-mar. 

Além do ferro, níquel e o cobre integram a cadeia. Sem falar na bauxita, explorada em frentes nos municípios como Paragominas e juriti, como  em outros cantos do estado.

No sul e sudeste do Pará cidades como Canaã, Ourilândia do Norte, Conceição do Araguaia, São Félix do Xingu, Floresta do Araguaia dentro outros passaram a fazer parte do complexo contexto da mineração do estado, que sangra o estado em inúmeras fazes do processo, sendo a isenção do reconhecimento de impostos da Lei Kandir uma delas.   

Além das cidades, outras empresas além da Vale configuram o mapa de megas corporações, dentre elas constam Reinarda, Anglo, Colosso e o Grupo Votorantim.

Tais projetos de extrativismo, ladeados pelas obras de infraestrutura, dentre elas as hidrelétricas, tendem a pressionar território em certa medida já definidos, tais como: áreas indígenas, reservas ecológicas de várias modalidades, projetos de assentamento, quilombos e fazendas, num universo fundiário marcado pelo caos.

Atualmente a Ferrovia de Carajás passa por uma duplicação, por conta demanda externa do minério, e a extração do ferro em outras minas, como a Serra Sul.

É sobre o presente cenário que 28 organizações do sul e sudeste do estado estarão reunidas nos dias 26 e 27 de janeiro, no Centro Formação Cabanagem. A iniciativa aglutina organizações como a Fetagri, MST, CPT e Cepasp.     
O objetivo do evento é realizar um nivelamento das informações sobre os inúmeros projetos de mineração das regiões, debatendo sobre o papel do cpital na Amazônai e do estado e as formas de enfrentamento com os mesmos dos movimentos sociais.