quinta-feira, 6 de setembro de 2012

Jean Hébette provoca o autor de Pororoca

Texto do prefácio do livro


Em “Pororoca pequena marolinha sobre a(s) Amazônia(s) de cá”, o jornalista Rogério Almeida, bem conhecido entre nós por sua militância junto aos movimentos sociais no campo pinta uma paisagem das contradições sociais e políticas que nos afetam, à nós, moradores da imensa Amazônia irrigada por uma igualmente imensa bacia hidrográfica. Tão imensa e diversificada do ponto de vista físico, econômico, social, político e, principalmente, cultural, que autores – notadamente geógrafos, como Ariovaldo de Oliveira – a desdobram, como Rogério Almeida prefere desdobrá-la - o que lhe permite não esconder sua particular simpatia pela Amazônia dos rios Tocantins e Araguaia, como se estes dois afluentes do Amazonas, já por só imensos, oferecessem uma espécie de síntese de todas elas.

Apesar da “modéstia”que o autor atribui – modestamente – a seu livro, vários de seus textos já foram apresentados em reuniões e encontros científicos, e mereceram publicações em revistas reconhecidas como Caros Amigos,. Democracia Viva do IBASE e do Laboratório de Políticas Públicas da Universidade Estadual do Rio de Janeiro.

A coletânea reúne 20 trabalhos distribuídos em quatro partes: a primeira, referida aos chamados Grandes Projetos, cada vez maiores na dimensão dos seus impactos sociais; a segunda, mais substancial, traça a audaciosa saga dos pequenos produtores rurais por aí imigrados em confronto com o latifúndio especulativo e ilegal; na terceira parte, o autor dá um pulo rápido para a cidade de Belém, antes de concluir, na quarta parte, com cinco entrevistas com testemunhas significativas de nossa história recente. Esta paisagem sugere uma arte de pirotecnia com um fogo de artifício de flashes brilhantes e percutidores lançados em todos os horizontes da vida sofrida do campesinato amazônico. Destes flashes se destaca uma quantidade de números preciosos coletados em fontes confiáveis.


A narração flui, fugindo à linguagem acadêmica à qual o redator teve que se submeter na sua dissertação do mestrado apresentado ao Núcleo de Altos Estudos Amazônicos (NAEA), lhe preferindo um estilo jornalístico mais florido, recheado de metáforas, às vezes tangentes a um certo preciosismo .

Na sua “modéstia”, o livro ora publicado pode ser muito útil para leitores que, sem quererem se aprofundar no assunto, fazem questão de se manter a par dos eventos mais significativos da região nos último cinco anos. Muito útil, sobretudo, para professores do ensino fundamental das diversas disciplinas, assim como para estudantes universitários. Neste sentido, referências mais explícitas à literatura citada em passant seriam bem-vindas. Espera-se do jornalista Rogério Almeida que, dando seqüência a seu anterior livro “Araguaia-Tocantins. Fios de uma história camponesa” (2006) e deste novo, nos gratifique, também, com análises mais detidas nas quais se treinou nos tempos de seu mestrado.

Jean Hébette


 

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