quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

Inusitado cotidiano

Chuva fina. Boteco de terceira. Uma gorda de cabelo tingido de amarelo enfeita uma caixa de isopor com propaganda de água mineral. Um som mal equalizado em último volume executa um sertanejo. O peito da mulher salta do corpete. Mamilo rosa.

A cena ocorre no Entroncamento. Território considerado barra pesada. Ele fica na fronteira entre Belém e Ananindeua. No trecho: um shopping, igrejas evangélicas e uma universidade privada. Inusitada tríade comercial.

Cena dois: homem franzino, cara recheada de espinhas saca do bolso da bermuda uma coleção de celulares. Uns seis. Exibe em glória as peças. Tem de tudo que é modelo.  Penso: ladrão. Mais coisas de outro bolso. Umas tampinhas. Como se fossem forminhas para a produção de doce.
 
A ferramenta é usada em jogo de azar.  Oculta uma pedrinha, feijão, grão de milho, café... O esperto usa sempre três forminhas, um tamborete e um papelão. Ganha alguma grana quem acertar em que forminha a pedra ou genérico se encontra. Tem gente que acredita da parada.
 
Minutos depois. Os sócios na empreitada chegam ao local. Contabilizam celulares e uns cento e tantos reais. Festejam. Calculam a próxima empreitada. Sobre uma mesa de bilhar, peões de uma empresa de cargas compartilham a partilha.
 
Em frente, outros descarregavam esquifes, enquanto as senhoras apanham crianças na escola. Chuva fina.  Quase meio dia. Melhor partir.

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