quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Deusu e José

A tarde era quente. Umas cinco horas mais ou menos. Sob uma mangueira um operário armado de uma flauta transversal disparou a canção pauapixuna.
Poucos metros até a saída do cemitério. Tudo ocorreu na quinta feira passada.

Instantes atrás o corpo de Deusu havia sido sepultado. Seria uma homenagem não encomendada? Uma obra da coincidência?

Deusu era morena. Atarracada. Pouca letra e muito coração. Uma sábia. Sabiá?
Tinha uns oitenta e tantos anos. Fez par com José. Zé era comerciante. Tiveram nove filhos. Oito biológicos e um adotivo.
Boa memória para música de seu tempo: oh deusa da minha rua....
José ganhou a vida com o comércio. E encantava Deusu com o violão. Não conheci José.

Diz a lenda que ensinou harmonia para o Tapajós. Não o rio, mas o músico. Hoje celebrado em todo canto.

Sempre que encontrava com Deusu a beliscava. Sabia que ia brigar. Adorava ela raiar comigo.

Aí eu dizia que iria a beijar na boca. De pronto ela retrucava: aqui só o meu marido.

Estarão os dois agora reunidos em algum canto? Trocando um dedo de prosa, dedilhando um violão?

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