segunda-feira, 3 de novembro de 2008

É possível retomar as CEB´s na Amazônia?


Violência será o tema central do X Encontrão das Comunidades Eclesiais de Base (CEB´s), que ocorre no dia 09 de novembro no salão da Paróquia de São Raimundo Nonato, no bairro do Umarizal, sob o tema, CEB´s e a Questão Urbana. As CEB´s exerceram o papel fundamental em décadas passadas na mobilização de inúmeros setores populares, com destaque para o campesinato.

As décadas de 1970 e 1980 são consideradas como os dias de glória no solo amazônico das CEB´s. O IV Encontro dos Bispos da Amazônia pontua a associação da Igreja com o povo marginalizado da região, realizado em 1972 na prelazia indicada como a mais antiga do Brasil, às margens do rio Tapajós, no município de Santarém, oeste paraense.

A adversidade nublava o ar. Viviam-se dias de integração vertical da região ao resto do país. Um período marcado pela associação do Estado com o capital privado nacional e internacional.

A régua e o compasso do planejamento da época trabalhavam na drenagem de recursos públicos para a iniciativa privada, concentração de terra e renda. Numa gestão marcada pela jagunçagem pública e privada contra os seus adversários. Entre eles o campesinato local e os atores sociais a eles associados: advogados, religiosos, leigos e militantes de partidos políticos. Repressão que ganhou maior musculatura por conta da Guerrilha do Araguaia (1970-1974).

Pe. Ricardo Rezende, ex-coordenador da Comissão Pastoral da Terra (CPT), em Conceição do Araguaia, sul do Pará, confere relevância às CEB´s no processo e resistência à ditadura. Radicado atualmente no Rio de Janeiro, Rezende sublinha que a partir da comunidade se conseguia despertar os trabalhadores para os espaços políticos institucionais. A grande fonte de mobilização social vinha das pequenas comunidades, círculos bíblicos, que suscitavam lideranças sindicais e políticas.

Na região do Araguaia germinaram dirigentes como Gringo, João Canuto e Expedito. Em Santarém, tem-se Geraldo Pestana, Valdir e Avelino Ganzer. Padres Aristide Camio, François Gouriou, Irmãs Dorothy Stang e Rebeca, com seus cursos bíblicos formaram gerações de camponeses preocupados com a justiça social e com o meio ambiente, recorda o hoje professor universitário Rezende.

No momento de conquista da fronteira amazônica, a disputa pela terra foi o aglutinador das ações das CEB´s no Pará. Em particular no sul e sudeste do estado. D. Alano, D. Estevão, Pe. Ricardo Rezende, Pe. Roberto Valicourt, Emanuel Wambergue e irmã Adelaide são alguns nomes lembrados, onde a vida sindical, política e religiosa estiveram conjugadas. A CPT e o Movimento de Educação de Base (MEB) ao lado das CEB´s formavam uma espécie de santa trindade da leitura bíblica a partir de uma perspectiva de libertação.

Na roça os laços de família, apadrinhamento, vizinhança e parentesco do campesinato eram consolidados em mutirões. Assim nasceram delegacias e inúmeros Sindicatos de Trabalhadores Rurais (STR´s). A exemplo do STR de Rio Maria, sul do Pará, um dos mais aguerridos e atingidos pela violência. A família Canuto foi penalizada com a morte de três entes, João (1985), José e Paulo (1991), filhos de João.

Mesmo destino que teve o dirigente Expedito Ribeiro. A organização ou conquista dos STR´s, ocupação da terra, permanência no lote, resistência contra a violência, organização de partidos políticos, inundavam a agenda da luta. Saga imortalizada no documentário Expeditos/2006.

Uma encruzilhada- Passadas quase quatro década do apogeu das CEB´s a Igreja parece se deparar numa encruzilhada. E um reflexo da questão em parte se explica no lançamento da Campanha da Fraternidade de 2007, cujo tema foi a Amazônia. Ainda que o documento base contenha uma série de passivos sociais e ambientais que impregnam a região, o lançamento da campanha teve o patrocínio da Companhia Vale do Rio Doce (CVRD), um dos atores econômicos que fomentam tais passivos. Ato que gerou um manifesto de protesto dos setores da base da Igreja, que teve entre os signatários a CPT.

No dia Santa Rita, 20 de maio, sob um sol de 40º que banha a cidade de Belém, tal conflito entre a cúpula e a base ocupou os depoimentos de dirigentes das CEB´s na grande Belém. A atividade integra a agenda de formação. Todo terceiro domingo há estudo na arquidiocese no centro da cidade. A média é de 30 participantes, sendo a maioria mulher. Cantos, leituras da bíblia, debate sobre as CEB´s ocupam toda a manhã.

Os dirigentes comungam que a maioria dos padres atuais não se alinha às comunidades de base. Uma dirigente do bairro da Marambaia, em Belém, lembra que uma referência na animação das comunidades, o Pe. Roberto Valicourt foi impedido de se pronunciar na sede da igreja.

As comunidades de base passam por um momento de reflexão sobre a ação da renovação carismática e a expansão pentecostal e ainda problema de método na comunicação com os jovens. Um outro indicador para tentar explicar o refluxo das CEB´s pode ser o processo de relativa emancipação política de setores de atuação das comunidades, como o campesinato. Se antes havia uma série de mediadores, Igreja, partidos políticos, nota-se a consolidação das entidades de representação de classe.

Entre os alinhado às CEB´s despontam D. Erwin do Xingu, Edilberto Sena, Dominique You, João Ascona como referenciais da aliança da Igreja com o povo. Em todo o estado Alípio Aires, que integra o colegiado de 20 pessoas na animação do debate, calcula em 2 mil as ´CEB´s, sendo 260 na grande Belém. Assessores, leigos e dirigentes dão vida ao grupo.

Orlandira Reis milita desde 1970 na periferia de Belém e se ressente do esvaziamento do grupo que participa. Antes a gente reunia 70 pessoas. Hoje conseguimos apenas 12. Reis ao falar dos frutos da ação das CEB´s enumera a conquista do posto de saúde, asfaltamento e a organização do grito dos excluídos.

Mirtes Souza, que integra há oito anos acredita na mobilização comunitária. Fala com orgulho das ações de solidariedade no bairro da Marambaia. Mesmo com o grupo reduzido, ajudamos em mutirões para a construção de casa, questões de saúde e na coleta de cestas básicas. No entanto um ponto em comum na assembléia é a falta de apoio.

A pergunta que ocorre é se é possível reacender a chama das CEB´s na Amazônia?

Sobre a questão um dos protagonistas nos áureos tempos, Pe. Roberto de Valicourt, atualmente radicado em Campinas, reflete: “As Cebs que ajudei a nascer na beira da Transamazônica morreram. Outras que ajudei a se formar nas cidades setransformaram em capelas ou mini-paróquias, muitopreocupadas pelos problemas internos da comunidade. 1970 não é 2007. A história avança. As CEBs também. O espírito de CEBs, essa ligação estreita entre fé evida, permanece e penetra muitos grupos e movimentos.As CEBs, desprezadas, as vezes combatidas, resistem econtinuam vivas, mas com um outro rosto. Em Belém, como em Campinas, estão surgindo pequenos grupos urbanos, mais adaptados à vida das periferiasdas cidades. Encontro nesses grupos a mesma fé, omesmo entusiasmo, o mesmo compromisso social epolítico.”

DETALHES ALÍPIO AIRES
Fone: 3215-7001 - e-mail: cebsgbelem@yahoo.com.br

1 comentários:

www.ribamarribeirojunior.blogspot.com disse...

Primeiro é necessário saber oque se quer com as CEBs na Amazônia? Se é possivel é preciso novos objetivos claros e pontuais.

Precisamos de novos militantes, de novos e aguerridos companheiros para a luta, isso é possivel??